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Coletivos criam performances urbanas

Grupos em São Paulo, Rio e Belo Horizonte promovem situações inusitadas para combater a "anestesia do olhar"

Artistas tentam manter autonomia em relação ao sistema financiando suas ações por meio de "vaquinha" na internet

Fotos: Divulgação
Atento à transformação radical em curso no centro de São Paulo, este coletivo organiza festas, festivais de choro, peças de teatro ao ar livre e baladas de todo tipo no entorno do Minhocão, elevado que corta o coração da capital
Atento à transformação radical em curso no centro de São Paulo, este coletivo organiza festas, festivais de choro, peças de teatro ao ar livre e baladas de todo tipo no entorno do Minhocão, elevado que corta o coração da capital

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

No fim do ano passado, um quarteirão de Copacabana, no Rio, amanheceu interditado. Fitas demarcavam uma zona de desapropriação para a "construção de turbinas subaquáticas de geração de energia", o que causou espanto entre os moradores.

Na verdade, não existiriam turbinas nem se tratava de uma obra real, mas sim de uma ação do coletivo Brecha, que cria performances em espaços públicos com a intenção de despertar questionamentos no público.

"Exploramos mesmo essas brechas", diz Patrick Sampaio, um dos artistas do grupo. "Quando dão conta da história, a gente já terminou, desaparece e surge de novo em algum outro lugar."

Esse não é único conjunto de artistas, ativistas, hackers, atores e DJs que se juntam pelas metrópoles do país para combater o que alguns chamam de "anestesia do olhar".

"Nosso trabalho cria situações de sutileza, um olhar poético sobre o cotidiano", explica Brígida Campbell, do grupo Poro, de Belo Horizonte. "Usamos cartazes, lambe-lambes, faixas, coisas que criam uma espécie de ruptura."

ESPECULAÇÃO

No caso, uma ruptura com a ocupação tradicional de espaços muitas vezes vítimas do mau urbanismo e às voltas com a transformação desordenada causada pela especulação imobiliária e por problemas sociais.

Tentando manter certa autonomia em relação ao sistema oficial da arte no país, de editais e leis de incentivo, muitos desses grupos financiam suas ações por sites de "crowdfunding", ou seja, pedindo dinheiro a seu próprio público direto pela internet.

"Nossa lógica é fazer uma campanha, a gente não se vê sentando com um patrocinador para discutir", diz Lucas Pretti, do coletivo paulistano Baixo Centro. "Queremos uma dose de descontrole."

No caso deles, o "descontrole" é se instalar na região central de São Paulo, às voltas com a tentativa de revitalização da cracolândia.

"Não é o centro bonito, a Sé, a [avenida] Paulista", diz Pretti. "É uma coisa mais suja, feia, o eixo do Minhocão, que a gente quer ocupar com cultura, justiça, mobilidade. Queremos colocar uma coisa aberta na cidade fechada."

BLOCO, BIKE E KOMBI

Até agora, o Baixo Centro, em parceria com grupos de música, artes plásticas e teatro, já conseguiu armar um bloco de Carnaval, que desfilou pelo Minhocão, além de rodas de choro e de uma série de eventos de arte de rua.

Da mesma forma, o Nuvem, no Rio, vem criando festas ambulantes com um sistema de som acoplado a bicicletas -tudo isso também bancado com o velho esquema de vaquinhas virtuais.

"São caixas de som conectadas via rádio", diz Ícaro dos Santos, do Nuvem. "A proposta é fazer uso de um lugar que não é ocupado direito. No aterro do Flamengo, nossa festa parecia um festival na Califórnia, com 300 pessoas."

Depois de dois anos dominando espaços abandonados no centro paulistano, como o subsolo de prédios desativados ou bordéis decadentes, o coletivo Voodoohop também planeja juntar dinheiro via "crowdfunding" para pôr uma Kombi de som nas ruas.

"A ideia é ter um café, um cinema e uma balada móveis", conta Thomas Haferlach. "Vamos povoar o centro usando espaços alternativos."

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