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Lloyd Jones aborda crise de valores da Europa atual

Em seu novo livro, neozelandês narra saga de africana no continente

Autor conta a história de uma camareira em busca do filho a partir do ponto de vista de diferentes personagens

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Desde 2007, quando lançou "Senhor Pip", pelo qual concorreu ao prêmio Man Booker Prize, o autor neozelandês Lloyd Jones, 56, ganhou notoriedade e passou a ser considerado uma das revelações de língua inglesa em literatura pós-colonial.

"Mundos Roubados", seu livro mais recente, traz à tona a saga de uma camareira africana ludibriada em busca do filho que lhe foi roubado na Tunísia e vive em Berlim. E o foi pelo próprio pai, um alemão com quem teve um caso num hotel de luxo.

Sem dinheiro nem identidade, ela parte em sua busca. Tenta atravessar a fronteira a bordo de uma embarcação clandestina e, já próxima à costa sul europeia, é atirada ao mar. Sobrevive. Mas sua sorte em terra firme não será muito melhor.

PONTOS DE VISTA

A narrativa é composta pelos depoimentos, às vezes contraditórios, de todos que cruzam pelo seu caminho e se sentem atraídos por sua beleza e introspecção -o caminhoneiro que lhe dá carona, um produtor de cinema, prostitutas, sem-tetos.

É uma forma astuta esta encontrada pelo escritor, de abordar a crise de valores vivida pelos europeus no mundo de hoje. A visão pessoal e o universo íntimo de cada personagem empresta uma boa dose de frescor e apelo emocional à obra.

Mas esta constitui apenas a primeira parte do livro. Em uma surpreendente reviravolta, quem assume a narrativa na segunda parte é a própria protagonista, que conta sua versão dos fatos.

"A intenção foi de oferecer ao leitor a oportunidade de viver uma mesma história a partir de diversos pontos de vista. Isso o obriga a repensar as questões morais que se apresentam a partir da perspectiva de cada um. O que gera compaixão, entendimento", disse o escritor à Folha.

Nesse espírito, emergem enigmáticas colocações que poderiam ser lidas à margem do noticiário atual. Como a queda do presidente do FMI Dominique Strauss-Kahn após envolvimento sexual com uma camareira em um hotel de Nova York. Ou o naufrágio do cruzeiro na Itália.

"Uma balsa dinamarquesa emborcando no Mar do Norte é uma calamidade. É notícia internacional. Cinquenta e uma almas perdidas. Vinte, 30, 50 mil negros... bem, é um número grande demais para contemplar."

É de se esperar que dentro deste contexto as escolhas éticas e morais de cada um sejam confusas e contraditórias. A começar pela própria protagonista, que se prostitui, rouba e mata. Mas sempre tendo em vista um propósito legítimo.

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