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Crítica Osesp

Alsop enfatiza estrutura das obras em estreia na Osesp

Em 1º concerto como titular, regente alterou o posicionamento de músicos

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Se Neschling era garra e força, e Tortelier sonoridade e equilíbrio, Marin Alsop sintetiza as duas correntes e sinaliza que preza a estrutura das obras. Pelo menos é o que emergiu de sua estreia como titular da Osesp, na quinta-feira passada.

No Dia da Mulher, a Sala São Paulo estava lotada e florida e, para escapar do trânsito, muita gente preferiu chegar cedo, conversar e ler.

Marin entrou determinada a partilhar logo com o público os frutos dos ensaios dos últimos dias. Parecia à vontade em sua nova casa e com disposição para trabalhar.

Primeiro foi a estreia mundial de "Terra Brasilis", breve fantasia sobre o Hino Nacional encomendada à compositora brasileira Clarice Assad, 34.

Os sons da "descoberta do Brasil" remetem a Edino Krieger e Marlos Nobre e são destaque ao lado do "momento clássico" e da entrada final do hino: tal como seu pai, o violonista e compositor Sérgio Assad, Clarice sabe juntar fragmentos improváveis até o ponto de revelar sua origem.

Mas, em uma primeira escuta, o trecho que evoca a música das nações imigrantes pareceu um pouco gratuito, muitas ideias com pouco tempo de desenvolvimento.

Em uma temporada batizada como "Música em Tempos de Guerra e de Paz", Mozart (1756-91) é a paz. Exatamente assim: ele não celebra esta ou aquela paz, mas, antes, tem a raiz de sua fantasia em um estado de natureza prévio.

As escolhas do "Concerto nº 22" (1785) e do pianista David Fray como solista foram ótimas. Mozart está tão à vontade nessa obra que a forma não se deixa captar em esquemas simples, tudo é devir.

Fray domina o toque mozartiano como poucos: passos da interpretação não saem da memória, como o ataque de mi bemol menor no primeiro movimento e a entrada final do tema no rondó, além do andante. Na orquestra, as madeiras arrasaram.

Seguiu-se a grandiosa "Sinfonia nº 5" (1937) de Dmitri Shostakovich (1906-75), compositor em constante guerra consigo mesmo e com a burocracia soviética. Nela surtiram pleno efeito as mudanças de posicionamento propostas pela nova regente.

Marin colocou contrabaixos, metais e tímpanos mais altos, um degrau acima. O efeito no registro grave foi de maior envolvência. Trompas e demais metais ficaram mais próximos e timbrados, enquanto piano, harpa e celesta interagiram melhor com a percussão.

Isso ajudou a realizar pianíssimos radicais e fortes brilhantes, arredondados. Alsop regeu de cor os 45 minutos da sinfonia. Ela prioriza a estrutura, enfatiza a harmonia e nunca esconde as vozes internas, o que deixa a música coerente e bem explicada.

OSESP COM MARIN ALSOP
QUANDO hoje, às 16h30; dom., 11h
ONDE Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 0/xx/11/3223-3966); dom., no pq. da Independência (r. dos Patriotas, s/n)
QUANTO de R$ 26 a R$ 149; grátis no domingo.
CLASSIFICAÇÃO 7 anos; dom. livre
AVALIAÇÃO ótimo

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