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Doisneau retrata a periferia parisiense

Mostra no Rio celebra centenário do fotógrafo com imagens célebres e registros do pós-guerra na capital francesa

Além de suas séries sobre a transformação dos subúrbios, está na mostra o famoso beijo em frente à prefeitura

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Um menino desce uma viela lamacenta entre prédios decrépitos na periferia de Paris. No rosto, um sorriso. "Nessa paisagem triste, ele consegue manter sua graça, a luminosidade", diz Francine Deroudille. "É quase um autorretrato do meu pai."

Seu pai é Robert Doisneau, que nos anos 40 e 50, depois da Segunda Guerra, alternou encomendas para revistas, como aquele beijo em frente ao Hôtel de Ville, e um registro mais humanista dos arredores da capital francesa.

Esses dois lados de Doisneau, um dos maiores fotógrafos do século 20, estão agora em mostra no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio, comemorando o centenário do artista este ano.

Muito além da imagem que virou ícone de sua obra, a daquele casal de atores que encenou um beijo, Doisneau flanou por Paris num momento de transformação -a reconstrução da cidade depois dos bombardeios alemães.

"Ele mesmo veio da periferia, esses espaços sofreram grandes mudanças no pós-guerra", conta Agnès de Gouvion Saint-Cyr, curadora da mostra. "Doisneau retratou as dançarinas dos cabarés, os trabalhadores da noite, todo esse universo particular."

Uma dessas imagens mostra uma dançarina num momento de descanso. De vestido preto e colar de pérolas no pescoço, ela olha para fora do quadro no cabaré, algo entre a graça e a melancolia.

"Ele ficou maravilhado com essa mulher e insistiu até fazer o retrato", diz Saint-Cyr. "Tem muita força essa composição, algo que se repete na obra dele, uma simplicidade que causa transtorno."

Na mesma pegada de seus contemporâneos, como Brassaï e Cartier-Bresson, Doisneau foi um dos pilares da corrente humanista na fotografia francesa, de flagras do cotidiano que tentavam extrair leveza das situações, mesmo numa realidade mais dura.

Tanto que Doisneau estudou o pensamento de Le Corbusier, o arquiteto modernista que buscava na época soluções para a habitação num país abalado pela guerra.

Suas fotografias mostram esses prédios modernos construídos a toque de caixa na periferia, crianças brincando nos jardins e detalhes desses edifícios que mais tarde seriam embrião de exclusão e revoltas na periferia de Paris.

"Esses subúrbios interessavam muito a meu pai, são imagens ligadas à história", diz Deroudille. "É um dos momentos mais fortes dele."

Doisneau chegou a publicar suas imagens da transformação de Paris com um texto do poeta Blaise Cendrars, num livro editado em 1949. Foi um dos pontos altos de sua produção, em que suavizou maneirismos de estilo e construiu retratos potentes.

ROBERT DOISNEAU
QUANDO de ter. a dom., das 12h às 19h; até 17/6
ONDE Centro Cultural Justiça Federal (av. Rio Branco, 241, Rio, tel. 0/xx/21/3261-2550)
QUANTO grátis

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