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Exterminador do futuro

Peter Greenaway, que volta ao Brasil em maio no Fronteiras do Pensamento, ataca obsessão por filmes 'bobos' como 'O Artista' e desdenha do 3D

Divulgação
O cineasta britânico Peter Greenaway
O cineasta britânico Peter Greenaway

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

Em "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante" (1989), o violento gângster vivido por Michael Gambon é forçado pela mulher (Helen Mirren) a se banquetear do corpo do homem que assassinou por ciúmes.

A cena é lembrada como uma das mais grotescas do cinema. No entanto, é uma das mais normais da filmografia do cineasta britânico Peter Greenaway, 69, que retorna ao Brasil em maio para falar no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento.
Morando em Amsterdã desde os anos 1990, Greenaway nunca foi um diretor comum. Dos longas repletos de referências barrocas às instalações multimídia que faz em museus pelo mundo, ele busca sempre provocar.

Folha - O sr. diz há anos que o cinema está morto. Ainda continua com a mesma opinião?
Peter Greenaway - Sim. O cinema é uma criação do século 19, era uma forma simples e sustentável de entretenimento. Acho que o mundo está muito mais sofisticado agora. A nova geração quer participar, e o cinema é um fenômeno íntimo: você fica trancado numa sala como um animal prestes a ser abatido. É uma atividade limitada.

Como mudar isso?
Vivemos na era da imersão total. Os jovens não vão mais ao cinema. Precisamos tirar filmes do cinema e levar à vida. Deixar a experiência audiovisual mais imediata.

Qual a sua opinião sobre a tecnologia 3D no cinema?
O 3D é totalmente irrelevante. Não está fazendo nada para reorganizar a experiência cinematográfica. É um truque barato e passageiro.

Qual a sua sensação ao ver um diretor como Martin Scorsese filmando em 3D?
Martin Scorsese é uma perda de tempo. Ele fez alguns bons filmes no início da carreira, mas passou a ser manipulado pelos estúdios. Perdeu a vibração de "Táxi Driver" e "Touro Indomável". Scorsese ainda faz filmes italianos dos anos 50 sobre a obsessão italiana pelo mal inerente aos homens.

Hollywood enfrenta uma de suas maiores crises. O sr. avisou que isso aconteceria.
Hollywood é um dinossauro, e dinossauros não eram criaturas inteligentes. O cérebro deles era muito pequeno e longe da cauda. Se você atira na cabeça na segunda-feira, a cauda fica se mexendo até a sexta. É a mesma coisa com Hollywood, que está agora nostálgica por causa de filmes bobos como "O Artista".

Mas o sr. ainda filma o tempo todo. Por quê?
Eu ainda sou um cineasta estúpido e antiquado que gosta de fazer filmes. Não gosto de assisti-los, nem mesmo meus filmes. Mas fazer um longa é empolgante.

Como observa essa onda de realismo no cinema?
O cinema nos levava a lugares a que não poderíamos chegar. Se eu quisesse ver a vida da vizinha, eu iria tocar a campainha dela. Não preciso ir ao cinema para isso.
No período renascentista, as obras de arte tentavam ser realistas, mas não podemos criar realidade. Isso é uma preocupação de Deus.

Leia íntegra da entrevista
folha.com/no1060319

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