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Análise

Moebius foi do faroeste à fantasia delirante

Morto anteontem, o francês Jean Giraud assinou HQs notórias com nome de batismo, mas fãs preferiam seu pseudônimo

Em janeiro de 2011, a Folha encontrou o quadrinista na França. Centenas de fãs faziam filas diárias. Não esperavam Jean Giraud -queriam Moebius

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Se o pós-morte se parece com o que foi imaginado em vida, Jean Giraud deve estar agora em um mundo fantástico, colorido e selvagem.

O quadrinista francês, morto anteontem, aos 73 anos, vítima de câncer, foi o responsável pela criação de numerosa e variada obra.

Tão multifacetado era seu trabalho que a adoção do pseudônimo Moebius para parte de sua produção parecia ser a saída mais honesta.

Assim, faroestes como "Blueberry" trazem a assinatura com o nome de batismo do autor, enquanto os delírios fantasiosos de gibis como "Arzach" foram a livrarias com o nome inventado.

Ainda que "Blueberry" seja um clássico do gênero (e devidamente reconhecido), o artista se consagrou não com o nome recebido dos pais, mas com o pseudônimo.

Em janeiro de 2011, a Folha encontrou o quadrinista na França, durante o festival de quadrinhos de Angoulême. Centenas de fãs disputavam senhas e faziam filas diárias. Não esperavam Jean Giraud -queriam Moebius.

Paciente, ele se sentava atrás do balcão de seu estande. Admiradores lhe entregavam livros, ele os assinava e desenhava para a multidão.

Em geral, eram exemplares do bizarro "Arzach", repletos de paisagens fálicas sobrevoadas por um herói montado em pterodátilo.

Publicadas originalmente na revista francesa "Métal Hurlant", essas histórias tiveram edição no Brasil, no ano passado, pela Nemo.

"Arzach" é uma obra exemplar da produção de Moebius. A história transborda fantasia, e nada se parece com aquilo a que o leitor está habituado -desde cenário até objetos e criaturas. Em vez de diálogos, cenas violentas.

Outro de seus trabalhos icônicos é "Incal". Publicado nos anos 1980 com roteiro do chileno Alejandro Jodorowsky, esse gibi é um dos marcos da ficção científica.

A editora Devir acaba de compilar a série em uma edição integral de 308 páginas, com capa dura e guardas coloridas, ao preço de R$ 95.

Figurão dos quadrinhos franco-belgas, Moebius não se escondia atrás da fama. Enquanto caminhava por Angoulême, era mais fácil alguém de seu "entourage" expulsar os fãs ao seu redor do que ele se recusar a posar para as fotos.

Nos cafés e bares da cidade, durante o festival, artistas iniciantes e fãs contavam, animados, para os amigos: "Eu vi, eu vi o sr. Moebius!".

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