Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Livros mostram relação entre poder e imprensa e revelam Tostão poético

Obra analisa desde o primeiro jornal paulista, lançado em 1823, até os sites noticiosos de hoje

Em 101 colunas, craque da Copa de 70 fala de táticas de jogo, critica o futebol atual e opina sobre relações humanas

Marisa Cauduro/Folhapress
Oscar Pilagallo em seu escritório
Oscar Pilagallo em seu escritório

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO

Setembro de 1823, dia 22. Nasce o primeiro jornal de São Paulo. Chama-se "O Paulista", é escrito à mão, em folhas de papel almaço, e tem circulação de apenas oito exemplares.

Maio de 1999, dia 9. Tostão, craque dos gramados, passa a escrever sobre futebol na Folha, cuja tiragem supera os 700 mil exemplares aos domingos. O processo de produção do jornal já é totalmente informatizado.

Apesar de desconexos, os fatos ilustram a evolução do jornalismo em São Paulo ao longo de quase dois séculos.

Jornalismo que é o principal foco de um novo selo editorial, o Três Estrelas, que chega às livrarias com dois títulos: "História da Imprensa Paulista - Jornalismo e Poder de D. Pedro I a Dilma" -que parte de "O Paulista"- e "A Perfeição Não Existe", coletânea de textos escritos pelo ex-jogador Tostão.

O Três Estrelas é a nova empreitada no segmento de livros da Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha e possui a editora Publifolha.

"O selo deverá se dedicar ao jornalismo e áreas conexas. Terão lugar entre os títulos a reportagem ambiciosa, o ensaio polêmico, a pesquisa em história contemporânea, a coletânea de cronistas renomados, a biografia crítica, as artes visuais, a própria mídia impressa e eletrônica", afirma Otavio Frias Filho, diretor editorial da Folha.

"O objetivo é oferecer ao público livros de qualidade e ao mesmo tempo de leitura atraente, que abordem temas da atualidade sob um prisma original e esclarecedor", diz.

A meta é publicar dois livros por mês, todos de não ficção. Entre os próximos, estão uma coletânea de textos de Paulo Francis, um ensaio histórico sobre Zumbi dos Palmares e a história de Marco Archer Cardoso Moreira, brasileiro preso na Indonésia após ter sido condenado à morte por tráfico de drogas.

"Nossa prioridade são os livros jornalísticos que reúnam os métodos investigativos da imprensa e a melhor tradição da escrita literária", afirma Alcino Leite Neto, editor do Três Estrelas.

"É preciso lembrar que existe no Brasil uma antiga e perseverante linhagem de jornalistas-escritores. Euclydes da Cunha é o maior deles. Seu clássico 'Os Sertões' nasceu de uma reportagem", diz.

Haverá espaço também para obras ensaísticas brasileiras e estrangeiras, em áreas como filosofia, sociologia, antropologia e psicanálise.

Já está em processo de tradução, por exemplo, "L'homme qui se Prenait pour Napoléon" (O Homem que Achava que Era Napoleão), em que a historiadora Laure Murat discorre sobre o início da psiquiatria na França e a ligação entre acontecimentos políticos e loucura.

Também em preparação está "Por que Virei à Direita", com ensaios de João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé (colunistas da Folha) e Denis Rosenfield (colunista de "O Estado de S. Paulo").

PSICANÁLISE

"História da Imprensa Paulista" é o novo livro de Oscar Pilagallo, que já publicou "A Aventura do Dinheiro" e "A História do Brasil no Século 20", ambos pela Publifolha.

É uma grande síntese das transformações por que passou a imprensa desde o início do século 19 e da sua relação com os governos.

No período, o Rio de Janeiro perde o papel de centralizador do jornalismo nacional para São Paulo, que hoje abriga as principais Redações de jornais, de revistas e de sites noticiosos brasileiros.

Segundo o autor, isso reflete o que aconteceu com a economia das duas cidades.

Pilagallo afirma que o livro é resultado do trabalho de quase uma vida.

"A história da imprensa sempre me interessou. Antes de iniciar o projeto, já tinha lido a maioria dos livros que compõem a bibliografia."

Já Tostão releu textos publicados de 1999 a dezembro de 2011 para selecionar os 101 que compõem o livro.

"A grande preocupação foi evitar as crônicas mais factuais. Abordo muitos aspectos técnicos e táticas do futebol, mas escolhi algumas em que exprimo opiniões sobre outras coisas, além do esporte, como relações humanas", afirma o ex-campeão do mundo com a seleção de 1970.

Sobre futebol, está lá o analista crítico, que afirma que o esporte está hoje "muito feio", "medíocre", "terrível de assistir".

Também aquele que se irrita com clichês de locutores e técnicos como "dois a zero é um resultado perigoso" ou que é necessário "correr atrás do prejuízo".

Sobre o primeiro, escreve: "É mais perigoso que três a zero e menos perigoso que um a zero". Para o segundo: "Se o time está perdendo, tem de correr atrás do lucro".

Quando trata de outros assuntos, recorre às vezes à psicanalise, que estudou, para analisar a alma humana.

Consegue ser irônico e lírico, como num texto em que fala de sua cachorra.

"Sempre que chego em casa, Lambreca fica tão emocionada que urina enquanto corre em minha direção. Nenhum ser humano é tão explícito", escreve.

"Gosto de divagações, de pequenas filosofias. Há leitores que gostam que eu saia do futebol. Outros não", afirma Tostão.

"A Perfeição Não Existe" deve agradar aos dois grupos.

A PERFEIÇÃO NÃO EXISTE
AUTOR Tostão
QUANTO R$ 37 (288 págs.)

HISTÓRIA DA IMPRENSA PAULISTA
AUTOR Oscar Pilagallo
QUANTO R$ 59,90 (368 págs.)

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.