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'Anton Blau' retoma os pós-modernistas

Segundo livro de ficção da professora de filosofia e tradutora Maria Cecília Gomes dos Reis, "A Vida Obscena de Anton Blau" é uma obra experimental marcada pelo emprego de recursos estilísticos típicos da pós-modernidade.

A fragmentação da linguagem, o uso de várias vozes narrativas e a justaposição de camadas de significação textual são mais relevantes do que o fio condutor da história. "A intenção foi levar para a literatura minhas pesquisas relacionadas à filosofia. Busquei uma linguagem plástica que pudesse alcançar regiões de realidade nas porosidades das imagens mentais", afirma Maria Cecília.

Parte das investigações de linguagem desenvolvidas pela autora foi norteada pelo seu interesse em relação ao conceito de tempo.

"Estava terminando a tradução de 'Fedro', de Platão. Em grego, os tempos verbais são mais modais. O tempo é tratado como linear, horizontal, o que facilita as relações causais. Nesta obra, faço um tratamento vertical para o tempo", explica.

O protagonista funciona mais como um símbolo da interioridade do narrador do que como elemento constitutivo de um enredo narrativo.

"Anton Blau é um sujeito promissor que frustra suas possibilidades. Por isso, trabalho com a metáfora do anão sentado no ombro de si mesmo", diz.

TRABALHO VISUAL

A utilização, em sua obra, de desenhos e elementos gráficos que invadem o texto -como um capítulo do Código Civil ou a imagem de um relatório do Tribunal de Justiça- pode ser explicada pela formação inicial da autora, graduada em artes plásticas pela Faap, em São Paulo.

"Tenho um apreço pelo material gráfico, bem presente em meu trabalho. O impulso criativo vem da imaginação visual, que uso para construir o trabalho literário."

"Esses recursos gráficos invasivos funcionam como um assalto à realidade, como se fossem um golpe que colide com a ficção", completa.

TRILOGIA

A estreia de Maria Cecília Gomes dos Reis na ficção foi com a novela "O Mundo segundo Laura Ni", obra que já carrega vários traços da pós-modernidade literária vista em "A Vida Obscena de Anton Blau", como o pastiche, a fragmentação, a colagem e o intertexto.

"O Mundo segundo Laura Ni" foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de 2009, concorrendo na categoria melhor livro do ano para autor estreante.

A escritora já pensa em uma nova obra que feche o ciclo.

"Acho que tudo caminha para uma trilogia mesmo. O próximo livro deve se chamar 'Os Diários de Luísa Reis'. Nele, quero 'explodir' a primeira pessoa", afirma.