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Crítica Série

Programa empolga, apesar de piadas que podem escapar ao leigo

Mais adulto do que "Glee", seriado documenta rotina de testes comum tanto na Broadway quanto nos musicais brasileiros

CLAUDIO BOTELHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A cena de abertura do primeiro episódio da série "Smash" é exemplar: uma aspirante ao estrelato interpreta (cheia de firulas vocais) "Over the Rainbow", justamente a canção que lançou Judy Garland (1922-69), inspiração de quase toda moça que tenta a sorte no showbiz.

Garland fazia, nos anos 1930, o mesmo que artistas de "Smash": testes. Na seara dos musicais, absolutamente tudo é testado. Além das audições de atores e cantores para papéis, há as experimentações permanentes dos próprios criadores com a dramaturgia e a verificação da viabilidade de transformar certas ideias em canções.

Agora, numa brincadeira metalinguística, nós -o público- também estamos sendo testados. Será que vamos nos interessar pela narrativa segmentada da criação de um musical da Broadway?

Será que a vida desta gente que só fala em teatro, só pensa em conseguir emprego numa peça e não parece ter outra ambição senão o estrelato nos diz algo? Vamos esquecer um pouco "Glee", encantadora e juvenil demais, e nos emaranhar nas coxias de uma montagem musical?

Minha resposta é sim. Sou suspeito, é claro. Vivo disso, divido meu tempo entre uma produção e outra, um teste de elenco e outro, e ver tudo isso retratado numa série de TV é quase um prêmio. É uma propaganda gratuita para milhões de pessoas sobre o nosso ofício: o teatro musical.

PIADA INTERNA

O primeiro episódio é empolgante. Há certas piadas internas que, suponho, o público leigo não irá compreender de cara. Um exemplo é a cena em que Ivy, uma das protagonistas, está no camarim mexendo de modo desajeitado na própria peruca de cena e é advertida por uma colega: "Você vai levar uma multa".

No teatro americano, atores não manipulam figurinos, perucas e objetos de cena. Há um profissional para cada item. Quebrar essa regra, seja você estrela ou corista, resulta, na certa, em multa.

Não por acaso, a cena remete à memorável sequência do filme "A Malvada" (1950) em que a personagem de Anne Baxter tenta guardar um vestido num armário quando é interpelada pela camareira.

Foi justamente nesse longa que Marilyn Monroe conseguiu seu primeiro papel de expressão. "Smash", não custa lembrar, é a história da montagem de um musical sobre a atriz.

O elenco alia talentos da Broadway e do cinema (Anjelica Huston tem papel coadjuvante fixo, e Uma Thurman fará uma participação especial mais adiante). Ao longo da temporada, há de haver música, dança, ensaios, erros, sucesso e fracasso andando lado a lado, exatamente como é a vida de quem faz teatro musical.

Lá e aqui, guardadas as devidas proporções, é igual: a dor e a delícia andam juntas.

CLAUDIO BOTELHO é autor das versões brasileiras de "Um Violinista no Telhado" e "A Noviça Rebelde", entre outros

SMASH

AVALIAÇÃO ótimo

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