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Televisão/Crítica Comédia 'As Brasileiras' aposta em texto chulo para atingir novo público Histórias ruins e humor grosseiro fazem da série um dos desastres do ano
ESPECIAL PARA A FOLHA Acossada por uma concorrência cada vez mais forte e decidida a atender, ainda que não saiba bem como, à chamada nova classe média, a Globo entregou a Daniel Filho, um dos "magos" da TV, a tarefa de produzir uma série bem popular: "As Brasileiras". Deu tudo errado. Já exibidos sete dos 22 episódios, é possível dizer que se trata de um dos grandes desastres do ano. O desfile de atrizes do primeiro time não esconde o festival de histórias ruins, algumas constrangedoramente primárias, diálogos pobres e humor apelativo que tem caracterizado o programa. A série nasceu de uma costela de "As Cariocas", série exibida em 2010, livremente inspirada num livro de contos com o mesmo título de Sérgio Porto (1923-1968). Ainda que tivesse poucos pontos de contato com a obra do pai de Stanislaw Ponte Preta, "As Cariocas" conservou parte da ingenuidade e da leveza das histórias. Mesmo assim, de olho no grande público, o diretor recorreu a um narrador, cujo papel era explicar piadas e enfatizar sutilezas. Não havia em 2010, porém, a preocupação que há hoje em se aproximar deste novo consumidor, cuja ascensão social sacudiu o mercado das comunicações no Brasil. Em "As Brasileiras", o narrador parece descrever o programa para cegos. O texto é de banalidade assustadora, quando não de reiteração de lugares-comuns e de mau gosto sem precedentes recentes. "Quando viu aquele monumento na sala dele, Edson ficou se coçando igual ao Neymar quando vê a bola na pequena área. Mas achou que era muita carne-seca pro angu dele", diz o narrador a respeito do protagonista de "A Viúva do Maranhão". No episódio de estreia, "A Justiceira de Olinda", o tema central foi o drama do marido infiel cujo pênis é cortado pela mulher. O argumento rendeu piadas do naipe: "Será que o foguete sobe?". Em "A Sexóloga de Floripa", o narrador diz: "Trocando em miúdos bem miudinhos, Rosa revelou para todo mundo que Pablo Pontes não dava no couro e tinha o pintassilgo fabricado no Japão". Alguns episódios ainda tem enredos mirabolantes, sem pé nem cabeça, como "A Selvagem de Santarém", cuja história chega a ser constrangedora: o encontro de um documentarista com uma adorável canibal. A série, enfim, parece um belo exemplo dos equívocos cometidos na pressa em dialogar com a nova classe C. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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