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Pará Pop Cult

Nova música do Estado mistura Caribe, tradição regional e produção contemporânea

Daigo Oliva/Folhapress
Felipe Cordeiro
Felipe Cordeiro

ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Em Belém do Pará não é só o clima que é quente. Lá, qualquer festinha é aparelhada com potentes caixas de som -as maiores baladas são chamadas de aparelhagem.

A música corrobora, moldada pela mistura de batuques indígenas e africanos com calipsos, merengues, cha-cha-chas, cumbias e ritmos que chegam pelas rádios dos países vizinhos.

Características tão peculiares, decorrentes da proximidade com o Caribe e a América Central, resultaram numa cultura que há tempos tenta se nacionalizar. Da lambada de Beto Barbosa à eletrônica brega do Calypso, vira e mexe essa sonoridade parece ser a bola da vez na indústria do entretenimento. Mas some.

Agora, no entanto, é para valer. A musa do tecnobrega, Gaby Amarantos, 33, foi tema de reportagem do jornal britânico "Guardian", se tornou onipresente na TV e canta o tema da próxima novela das 19h da Globo.

Filho do produtor de lambada Manuel Cordeiro, o guitarrista e filósofo Felipe Cordeiro, 28, lançou "Kitsch Pop Cult", disco que mescla new wave, brega, guitarrada, cumbia, tecnomelody, vanguarda paulista e música dos Balcãs, com produção de André Abujamra.

Já o produtor e DJ Waldo Squash, 33, da Gang do Eletro, estende seus domínios das periferias do Pará para festivais de todo o país, como o Sónar SP, no qual a banda se apresenta em maio.

Essa efervescência atraiu produtores como Kassin (parceiro de Squash) e Carlos Eduardo Miranda, que fez uma "tradução pop" para Gaby Amarantos, cujo primeiro disco sai em abril. Ele também é curador do festival Terruá Pará, que ocorre em junho e julho, em São Paulo e no Rio.

VANGUARDA PERIFÉRICA

O que empolga nesses artistas é a maneira como utilizam os ritmos locais para criar uma música de vanguarda dançante.

"O brega do Pará não está integrado de maneira justa à história da MPB, que foi centralizadora. O eixo Rio-Bahia neutralizou coisas incríveis", diz Felipe Cordeiro.

Quando fala sobre o brega, Cordeiro trata da levada criada a partir de influências de jovem guarda, guitarrada e merengue, e não da cafonice ligada ao estilo.

"O brega é uma referência conceitual num disco em que faço uma reflexão sobre o kitsch e o processo de cópia. Exploro a contradição que é fazer uma música original a partir de samples."

Cordeiro vê ligações do brega com a vanguarda paulista: "A extravagância das letras de Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, e seu canto falado, têm tudo a ver com a estética brega".

O pai de Waldo Squash montava aparelhagem no quintal de casa para tocar brega, carimbó, guitarrada e merengue e o levou a tomar gosto pela música.

Quando passou a compor, incluiu o funk carioca e sons "à la Benny Bennasi" -produtor italiano de house e electro, do hit "Satisfaction".

O resultado é que o paraense se tornou um dos grandes criadores de tecnobrega, vertente acelerada do brega, e de suas variações, o tecnomelody (tecnobrega com baixas BPMs) e eletro melody (versão com sintetizadores).

"A base ainda são os ritmos tradicionais", afirma Squash, que produz para a "periferia", ao lado do parceiro Maderito, da Gang do Eletro.

"Gaby e Felipe fizeram discos para o território nacional. A Gang toca para a periferia de Belém, onde rola tecnobrega o ano todo. Mas quando a gente canta [o hit] 'Galera da Laje', pode ser a galera de qualquer laje do Brasil."

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