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Crítica história

Problemas não tiram interesse em livro sobre canal do Panamá

Os americanos ficaram observando e torcendo contra. E esperando a hora de tomar conta do projeto

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

A primeira impressão é que seria um livro chato, muito chato. Um livro sobre a construção do canal do Panamá? Coisa de engenheiro? Vamos deixar claro: engenheiros, com raras exceções, não são os seres humanos mais interessantes quando se trata de contar uma história. Mas este não é o caso.

O autor percebeu que a ligação entre o Atlântico e o Pacífico não era uma mera questão de engenharia e, também, que juntar dois oceanos, criando uma rota nova de comércio do mundo globalizado, foi uma tarefa heroica.

Havia questões diplomáticas, militares, geopolíticas e sociais. Vários lugares na América Central poderiam ter sido o local do canal. Os franceses, que haviam pouco antes criado o sensacional canal de Suez, sob comando de Ferdinand de Lesseps, iniciaram o trabalho no Panamá.

Os americanos, ciosos da Doutrina Monroe -nada de intervenção europeia nas Américas-, ficaram indignados, observando e, em geral, torcendo contra. E esperando a hora de entrar para tomar conta do projeto, o que acabou acontecendo, depois do fracasso francês, recheado de erros administrativos e corrupção da grossa.

Mas havia questões práticas: escavar ao nível do mar ou utilizando eclusas? Qual a melhor rota? Ao lado da ferrovia ou em parte dela? Havia ferramentas adequadas? E, acima de tudo, a questão das doenças tropicais.

Os franceses até poderiam ter concluído a obra, se não fosse pela malária e pela febre amarela, que mataram boa parte da força de trabalho -recrutada principalmente no Caribe- e os vistosos engenheiros formados em Paris. Essas doenças têm parasitas transmitidos por mosquitos, algo que não se conhecia no fim do século 19, quando as obras começaram.

Os americanos vieram depois, quando a ciência já sabia melhor como controlar essas doenças tropicais. E tinham mais grana, e um interesse estratégico bem maior, de ligar as duas costas do país, comercial e militarmente.

O livro tem vários problemas de revisão e tradução, quiçá parte vinda do original. Por exemplo, na página 155 há uma breve descrição de como a malária afeta as vítimas.

"Os parasitas migram para os rins e contaminam os glóbulos vermelhos, nos quais se multiplicam, rompendo os glóbulos e se espalhando". Em vez de "rins", o correto é "fígado". E o ciclo da malária é bem mais complexo do que essa curta descrição. Tanto que ainda não existe vacina contra ela.

A página 199 tem grandes erros. "Dois ou três batalhões de apoio em suas jaquetas azuis estava (sic) a postos". Jaquetas azuis, os "blue-jackets", são marinheiros, no jargão militar americano. O correto seria dizer "dois ou três batalhões auxiliares de marinheiros".

E não existem os "canhões Hotchkiss e Gatling e morteiros Dahlgron". São as metralhadoras Hotchkiss e Gatling; e os morteiros se chamam Dahlgren.

FEBRE DO PANAMÁ
AUTOR Matthew Parker
EDITORA Record
TRADUÇÃO Carlos Duarte e Anna Duarte
QUANTO R$ 74,90 (602 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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