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Crítica documentário

Filme escancara brutalidade do boxe chinês

Longa em cartaz no festival É Tudo Verdade mostra esporte como um meio de ascensão social e propaganda

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

O sangue espirra do rosto do menino franzino. "Baixe a cabeça! Erga os braços!", grita o técnico para o garoto.

Em instantes, a luta acaba, e o derrotado ouve apenas: "Seu casaco está todo manchado. Vá se lavar!".

A cena, no pátio de uma escola de um lugarejo no interior da China, é uma demonstração de como agem os caçadores de futuros campeões de boxe naquele país.

Eles, por sua vez, são caçados pelas câmeras do diretor canadense Yung Chang, autor de "China Peso-Pesado", que integra o programa da mostra É Tudo Verdade.

Banido pela Revolução Chinesa, em 1959, por ser um esporte violento e norte-americano, o boxe foi liberado no país cerca de 30 anos mais tarde. Hoje é um caminho para a ascensão social e um instrumento de propaganda.

O documentário revela esses dois lados do esporte. Com uma equipe, o ex-boxeador de sucesso e agora técnico Qi Moxiang se embrenha por uma China agrícola, onde o trabalho é quase todo manual e o carregamento de enormes fardos de tabaco é feito em lombo de gente.

Com testes físicos rápidos e breve questionário, selecionam meninos e meninas para uma dura preparação.

A brutalidade dos treinos é escancarada pelas câmeras, que também conseguem capturar a poesia, o engenho e a arte da luta.

São mostradas ainda as esperanças dos candidatos a atletas -o foco recai sobre dois dos mais talentosos deles, um que deseja a fama e a fortuna do boxe profissional, outro que almeja a glória olímpica.

Moxiang, o treinador, também tem seus sonhos. Quer pisar pelo menos mais uma vez no ringue, voltar a vestir o cinturão de campeão.

Ele consegue, e o espectador acompanha sua edificante luta de retorno mais pelos olhos do público que a assiste do que pelas próprias cenas do combate.

É o momento mais quente e emocionante do filme, que faz do boxe não apenas uma lente a mostrar traços da China moderna, mas uma alegoria da vida, com suas agruras e prazeres, esperanças e desencantos.

CHINA PESO-PESADO
EXIBIÇÕES CineSesc SP (hoje, 15h); Centro Cultural Banco do Brasil RJ (amanhã, 10h30); Centro Cultural Banco do Brasil SP (amanhã, 20h30); Centro Cultural Banco do Brasil RJ (quinta-feira, 12h30)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom

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