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Crítica / Show Saudosismo não mina resultado de 'The Wall' Roger Waters revisita álbum clássico do Pink Floyd em show executado à perfeição que chega hoje a Porto Alegre SYLVIA COLOMBODE BUENOS AIRES Malvinas, apertos de mão a políticos, polêmica pelos dólares arrecadados, recorde de shows, trânsito infernal em Buenos Aires. Mesmo quem não era fã do Pink Floyd não pôde deixar de reparar na passagem do baixista e compositor inglês Roger Waters pela Argentina. Além dos nove concertos no principal estádio do país, o Monumental de Nuñez, o músico não saiu dos noticiários. O saudosismo dos argentinos pelos anos 70 pareceu embalar os fãs. A atmosfera era familiar, não combinando muito com o espírito de contestação que deu origem ao disco "The Wall", que inspira a turnê. O espetáculo é bem produzido. Uma imensa parede ergue-se e é destruída. Nela, espatifa-se um avião e são projetadas mensagens políticas e pacifistas, além de cenas de "The Wall", o filme de Alan Parker (1982). São exibidas histórias de mortos em várias guerras e outros tipos de combate. Ganha especial destaque a do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia inglesa no metrô de Londres, em 2005. A enumeração de casos começa com o próprio pai de Waters, morto na Segunda Guerra Mundial (1939-45). Lançado em 1979, o álbum "The Wall" conta a história de um "rock star" que atravessa episódios traumáticos: a morte do pai, o convívio com a mãe superprotetora, o trato com professores autoritários e o divórcio. Seus medos levantam uma parede entre ele e o mundo. Do ponto de vista musical, não há ressalvas ao show. O som é perfeito, e a banda emula de forma correta os clássicos do Pink Floyd. Roger Waters, aos 68, está em ótima forma vocal. Um dos momentos mais tocantes é quando faz um duo consigo mesmo em "Mother", acompanhado de um vídeo gravado há 30 anos. Tudo é muito bem ensaiado, com pouco espaço para a espontaneidade. Seus passos no palco, a troca de figurino e a ordem dos acontecimentos pouco mudam. Em "Nobody Home", ele canta a partir de uma sala de estar. "Another Brick in the Wall (Part 2)" é apresentada junto a um coro de crianças em obediente coreografia. Os jovens enfrentam um imenso boneco que evoca o tirânico professor do filme. Em "Run Like Hell", surgem pessoas usando iPods, ao lado das expressões "iHate" (eu odeio) e "iPay" (eu pago). Executado à perfeição, "The Wall" é um espetáculo grandioso, mesmo quando parece servir apenas a um exercício de nostalgia ou a uma mera ode ao passado.
ROGER WATERS |
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