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Italianos tentam resgatar Da Vinci perdido

"Batalha de Anghiari" estaria escondido atrás de afresco de Giorgio Vasari em Florença

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Num canto da "Batalha de Marciano", afresco de Giorgio Vasari que adorna um dos salões do Palazzo Vecchio, em Florença, está escrito "procure e encontre".

Maurizio Seracini, o pesquisador italiano que ajudou a identificar a segunda versão da Medusa de Caravaggio anunciada há pouco, seguiu essa pista e está tentando encontrar, por trás do mural de Vasari, outro afresco de Leonardo da Vinci.

Quando Cosme 1º de Médici comprou a sede do governo florentino para ser sua residência, em 1540, mandou redecorar esse salão, encomendando seis novos murais a Vasari, que se tornou célebre como biógrafo de artistas renascentistas.

Até os anos 1970, especialistas acreditavam que "Batalha de Anghiari", mural considerado a maior obra de Da Vinci, tinha sido destruído na reforma de Cosme 1º ou encoberto por novos afrescos.

"Ninguém sabia o que havia acontecido nem onde estava esse afresco", diz Seracini à Folha. "Essa é uma obra importante pelas inovações que ele introduziu: o movimento, a anatomia dos cavalos, a bestialidade dos cavaleiros e a força expressiva."

Por encomenda do governo florentino, Da Vinci pintou em 1503 a cena da vitória de Florença sobre tropas de Milão no campo de Anghiari. A obra original é considerada perdida desde 1572. São conhecidas apenas reproduções e cópias de terceiros. Mas um exame detalhado do salão, conduzido por Seracini, mostra que há um vão entre a parede com o afresco de Vasari e o muro original do palácio.

PERFURAÇÕES

Seracini então começou a fazer uma série de perfurações sobre o afresco atual na tentativa de encontrar indícios de um Da Vinci lá atrás -a operação delicada vem levantando polêmica entre restauradores italianos, que afirmam que a pesquisa pode causar danos aos afrescos.

Foram seis perfurações em áreas do mural que já estavam danificadas ou que tinham passado por restauro, para não comprometer pontos originais da obra de Vasari. "Só encontramos até agora fragmentos de pintura", diz Seracini. "Devemos procurar uma parte maior do afresco."

As evidências colhidas a partir das incisões incluem pigmentos semelhantes aos usados na "Mona Lisa" e uma substância bege que só poderia ter sido aplicada com pincel na parede de trás.

Seracini agora defende a remoção do mural de Vasari para revelar a obra de Da Vinci, que pode ou não estar preservada na parede original. Mas a pesquisa, com grande potencial midiático e patrocinada pela National Geographic, esbarra na resistência de restauradores que defendem cautela no desmanche renascentista.

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