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Rio vê nascer nova geração de músicos

Jovens artistas se dividem entre os herdeiros da Orquestra Imperial, as vozes da Lapa e seguidores de Maria Gadú

Maioria das bandas e dos cantores se prepara para estrear em disco ou está para lançar segundo trabalho

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

É uma questão numérica. A abundância de primeiros ou segundos álbuns lançados nos últimos meses por artistas cariocas (ou ligados ao Rio) indica incontestável renovação na cena local.

São trabalhos que apresentam cantores e compositores novos -quase sempre bem jovens (alguns não chegaram aos 25 anos). A maioria nasceu na cidade ou a adotou.

Segundo o produtor Plínio Profeta, a diversidade de estilos é imensurável. Mas há três correntes principais.

A primeira é ligada à vanguarda, que ele chama de "cena criativa". São "filhos da Orquestra Imperial", "big band" fundada no começo dos 2000 que reuniu alguns dos artistas mais interessantes daquela década, como Kassin, Domenico Lancellotti, Rodrigo Amarante, Thalma de Freitas e Nina Becker.

Dessa ramificação, além dos próprios integrantes da Orquestra (Rubinho Jacobina prepara seu segundo CD), vêm meninos assumidamente influenciados por eles.

É o caso do cantor Cícero e das bandas Tono (cujo guitarrista é Bem Gil, filho de Gilberto Gil), Do Amor e Letuce.

Formado pelo casal Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos, o Letuce acaba de lançar "Manja Perene", o segundo disco, de canções com títulos nada convencionais, feito "Sempre Tive Perna", "Medo de Baleia" e "Cataploft".

O experimentalismo exacerbado incomodou alguns fãs da primeira viagem da banda, bem mais romântica.

"A gente se apaixonou, casou e agora faz manutenção dessa história", responde Letícia aos insatisfeitos. "O amor também é broxante. Então, há momentos broxantes na nossa música. Mas há bem mais coisa do que isso."

Profeta diz que, no Rio, a "cena criativa" é a que mais carece de público. "São Paulo, nesse sentido, está bem na frente. Lá, o cenário independente aparece mais."

LAPA

A segunda corrente que se evidencia na nova cena carioca tem raiz na Lapa.

Revitalizada também nos anos 2000, a região serviu então de cenário para a recolocação do samba no centro nevrálgico do pop nacional. Lá, atuavam Teresa Cristina, Pedro Miranda (que conclui terceiro CD) e Moyseis Marques (do grupo Casuarina).

Marques, que lança agora "Pra Desengomar", diz que a Lapa passou por um momento inicial, nos anos 2000, que era "muito reverente".

"Estávamos deslumbrados com a redescoberta daquele repertório clássico, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, que, para nós, era novidade."

Ele diz que foi só no meio da década que seus pares tomaram coragem para fazer os primeiros sambas autorais. Mas ainda eram comparados a Chico Buarque, Cartola e Paulinho da Viola.

"Eu mesmo procurava essas semelhanças", diz. "Hoje, estamos um momento adiante: Teresa Cristina, que só cantava Candeia, canta agora Adriana Calcanhotto junto com Marisa Monte."

Nessa configuração mais pop, os sambistas vêm se aproximando da Zona Sul e fazem shows para público que não frequentava a Lapa.

A terceira nova corrente tem uma paulista, Maria Gadú, como força motriz. Antes de estourar nacionalmente com "Shimbalaiê", em 2009, a cantora já tinha uma turma, batizada Varandistas (porque se reuniam na varanda do cineasta Caio Sóh, na Barra).

Enquanto "filhos da Orquestra" trabalham pela não canção -ou em embate com as fórmulas clássicas-, Varandistas atuam a favor dela.

Sete músicos com essas características foram reunidos no CD e DVD "Sarau", editado pela Universal Music: os cariocas Gugu Peixoto, Aureo Gandur, Fred Sommer e Taís Alvarenga, o brasiliense Daniel Chaudon, e os paulistas João Guarizo e Toni Ferreira.

"Gadú descortinou para as gravadoras o que estava acontecendo", diz Clemente Magalhães, produtor do "Sarau". "É um movimento da canção, das rodas de violão nas festas. Todos são compositores hiperativos."

A gravadora quer lançar trabalhos individuais de todos. Chaudon, o primeiro, com "Me Conta uma Música" (já nas lojas), vem sendo chamado de "Gadú de calça".

Excepcionalmente hoje não é publicada a coluna de Marcelo Coelho

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