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Tal pai, tal filho

Após 'Dois Filhos de Francisco', Breno Silveira volta às telas com cinebiografia que narra complexa relação entre o rei do baião, Luiz Gonzaga, e Gonzaguinha

Cristina Granato
Luiz Gonzaga e Gonzaguinha posam no antigo canecão, no rio, em 1987
Luiz Gonzaga e Gonzaguinha posam no antigo canecão, no rio, em 1987

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

Depois de estrear como diretor de longas com o sétimo maior público do cinema brasileiro -"Dois Filhos de Francisco" (2005), que vendeu 5,3 milhões de ingressos-, Breno Silveira não queria fazer biografias "nunca mais".

Mudou de ideia quando foi apresentado à complexa história de sucessos e conflitos que une outros dois músicos, desta vez pai e filho: o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989) e o carioca Gonzaguinha (1945-1991).

"O projeto começou porque eu recebi fitas em que o Gonzaguinha entrevistava o pai", diz o diretor, durante visita da Folha ao set de "Gonzaga - De Pai para Filho", no centro do Rio.

"Nas fitas, ele perguntava coisas que eu não imaginava, sobre a mãe, o pai que ele não conhecia, o porquê de ter sido abandonado no morro. Começa a se dar conta do tamanho que tinha o pai. Vou usar o áudio original, porque é impressionante e bonito."

O roteiro, da jornalista Patricia Andrade, é baseado no livro "Gonzaguinha e Gonzagão - Uma História Brasileira" (2006), de Regina Echeverria. Ele passa por infância, adolescência e velhice, sucesso e ocaso do rei do baião, interpretado em fases diferentes por três atores.

"É a biografia do Gonzaga, mas de forma inversa à de 'Dois Filhos'. Lá era a história dos filhos [Zezé Di Camargo e Luciano] contada pelo pai. Aqui é a do pai contada pelo filho", explica Silveira.

Ele também escalou três atores para cobrir todas as fases de Gonzaguinha, com destaque para o gaúcho Julio Andrade, 35, que já viveu Raul Seixas em especial da Globo e está incrivelmente parecido com o personagem.

"É impressionante. Ele canta igual, toca igual, tem a arrogância igual. Foi um susto e uma emoção no set."

Fiel à filosofia de que "se o personagem não errar, não tem redenção", Silveira diz que seu longa "vai mostrar muitos defeitos de Gonzaga, o que vai ser bem polêmico":

"Ele era um cometa, quem o amava não conseguia segurar. Suas mulheres e filhos sofreram muito. Gonzaguinha foi abandonado, criado no morro pela mulher de um parceiro de seu pai."

O diretor também não pretende resolver uma questão que segue aberta até hoje: Gonzagão era mesmo o pai biológico de Gonzaguinha?

"A última cena é a de Gonzaga dizendo 'Não importa se meu sangue corre nas suas veias ou não. Sou seu pai, e a gente tem que se entender como pai e filho'. É lindo. Eles fazem as pazes, esquecem o passado", descreve Silveira.

FELIZES ACASOS

Assim como aconteceu com "Dois Filhos", o diretor enxerga várias "coincidências absurdas" que se enfileiram e funcionam a favor do filme. No caso de "Gonzaga", os "sinais" vão desde um livro que ele ganhou por acaso e que tinha uma história desconhecida da vida do cantor (já acrescida ao roteiro) até um encontro casual com um irmão adotivo de Gonzaga, um boiadeiro que entrou com gado no set no sertão.

Produzido pela Conspiração e coproduzido pela Globo Filmes, "Gonzaga" é filmado e montado em paralelo, para estrear ainda no centenário do rei do baião (que nasceu em 13/12/1912).

Com o sucesso de bilheteria no currículo e um astro ultrapopular como tema, o cineasta conseguiu o maior orçamento da carreira ("Já está em mais de R$ 12 milhões", diz). A pressão por resultados se torna quase inevitável.

"Nunca escolhi filme pela bilheteria, mas é claro que é bom falar com o público. Quando escolho um filme, quero que a plateia o entenda. Agora, tentamos de novo falar com o grande público."

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