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Análise

Faltou tino mercadológico ao movimento dos mineiros

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Coautor de "Tudo que Você Podia Ser" e "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo", as faixas mais psicodélicas do disco "Clube da Esquina" (1972), Márcio Borges deflagra em sua frase o desleixo com que o principal movimento musical de Minas Gerais vem sendo tratado nesses 40 anos.

"Um museu da tropicália, em Salvador, ou da bossa nova, no Rio, com certeza sairia mais rápido", ele diz.

Em primeira leitura, o compositor parece estar falando apenas da relação do Brasil com o Clube. Mas, nas entrelinhas, deixa também exposto o punhado de responsabilidade que os próprios músicos do Clube têm nesse processo de "esquecimento".

Se as propostas estéticas deles foram tão renovadoras para a música do Brasil (e foram mesmo -sobretudo nos quesitos harmonia, melodia e arranjo), por que o movimento nunca é lembrado com o mesmo orgulho e paixão que a bossa ou a tropicália?

É, sobretudo, uma questão de personalidades.

Não havia entre os mineiros uma cabeça tão midiática quanto a de Caetano Veloso (ou a de Guilherme Araújo, empresário dos tropicalistas) para colocar os meninos do Clube no cartaz, na capa da revista, na notícia do dia, na Discoteca do Chacrinha. Desde o nascedouro, nos 1970, o movimento mineiro foi estritamente musical.

A bossa também foi, é verdade. Mas ela teve a seu favor uma repercussão internacional maciça e quase imediata, que lhe garantiu, para o resto dos tempos, lugar de honra na autoestima brasileira.

As canções mineiras só entrariam em doses homeopáticas no repertório de artistas de jazz como Sarah Vaughan, Wayne Shorter, Pat Metheny, Herbie Hancock e Ron Carter.

Por isso tudo, mais do que o tropicalismo e muito mais do que a bossa nova, o Clube da Esquina mantém quase intacta sua força de invenção.

A cartilha do Clube quase não foi usada pelas gerações seguintes -as mesmas que beberiam muito na fonte tropicalista e chupariam a bossa nova até o bagaço.

Dos mineiros, desfrutaram poucos. É imediato lembrar dos conterrâneos do Skank, que, nos primeiros anos da década passada, retomou em alguma medida a estética do Clube e fez álbuns importantes como "Cosmotron" (2003).

Mas é evidente o impacto do Clube da Esquina (muito mais do que o dos tropicalistas) no trabalho dos cariocas do Los Hermanos -não por acaso, a banda nacional mais relevante dos anos 2000.

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