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Fotógrafo alemão expõe no MAM cenas periféricas

'Estou interessado em beleza, mas de modo relativo', diz Wolfgang Tillmans, cuja obra ganha retrospectiva

Em visita a São Paulo, antes da montagem da exposição, artista foi a inferninhos da região central da cidade

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Quando veio a São Paulo antes da montagem de sua exposição, Wolfgang Tillmans quis conhecer os buracos do centro, longe dos bares e baladas descolados.

Numa noite, o artista alemão andou pelos inferninhos do Arouche, as ruas Vieira de Carvalho e Rego Freitas e terminou no Alôca, clássico clube underground gay paulistano na rua Frei Caneca.

Seu olhar, como fica claro na retrospectiva em cartaz no Museu de Arte Moderna, parece focar o periférico, transforma pontos de exceção em espaços de atração, seja pela pura banalidade seja pela estridência de seus contornos.

Nos anos 1990, Tillmans foi um dos precursores de uma fotografia voltada para documentar o êxtase da juventude, um hedonismo movido a drogas e música tecno que turbinou uma geração às voltas com o fantasma da Aids em Londres e Berlim.

Depois, na primeira década deste século, sua obra se voltou para cores e texturas abstratas, como papéis coloridos amassados e resultados de experimentos no quarto escuro.

Na primeira sala de sua mostra no MAM, imagens de não lugares e objetos banais, como uma fotocopiadora ou um aparelho de ar-condicionado, preparam o terreno para o que vem depois _uma reflexão política sobre exclusão, como registros do Haiti arrasado pelo terremoto.

Retratos de seus amigos, roupas deixadas para trás por amantes que já morreram parecem dar uma carga pungente a essa reflexão mais ampla, como marcadores de um tempo atravessado por conflitos públicos com suas ramificações privadas.

"Olho para as coisas da forma como elas aparecem na superfície", disse Tillmans à Folha. "Não é preciso ter nenhum acesso privilegiado para entender o mundo."

Numa de suas séries mais célebres, que também está no MAM, ele registrou a rota de voo do antigo Concorde sobre Londres. "Não pedi para voar no avião, nem ter acesso aos planos de voo", conta o artista. "Estava interessado nesse céu como tela de projeção dele, da forma como qualquer um pode ver isso."

Mas é uma série que só faz sentido quando vista em seu conjunto. Nenhuma de suas fotografias vale como obra isolada. Ele cria uma trama de imagens em que uma influencia a outra, dependendo da escala, do tamanho da impressão, das cores e de seu significado.

"Estou interessado em beleza, mas não de um modo absoluto, sempre relativo", diz Tillmans. "Os olhos criam estruturas de valor e significado diante de um conjunto de imagens. É isso que dá a entender a natureza mais política da beleza."

WOLFGANG TILLMANS
ONDE MAM (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Parque Ibirapuera; tel. 0/xx/11/5085-1300). Grátis
QUANDO ter. a dom., 10h às 17h30;
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA livre

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