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Entrevista Danilo Santos de Miranda

Há um desejo de mudança que tem sua justificativa

Gestor cultural comemora orçamento recorde do Sesc e comenta mobilização de artistas para conduzi-lo ao Ministério da Cultura

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Sustentado por uma legislação criada nos anos 40, que determina a contribuição compulsória de 1,5% sobre o valor total da folha de pagamento das empresas de comércio e serviços, o orçamento do Sesc (Serviço Geral de Comércio) está crescendo mais do que a economia do país e deve atingir seu recorde histórico em 2012, com R$ 1,5 bilhão previstos.

São 10% a mais do que em 2011 -a economia cresceu cerca de 3% no período. O resultado é proporcional ao aumento do número de pessoas que passaram a trabalhar com carteira assinada.

Para se ter uma ideia, o orçamento anual do Sesc é maior que o das secretarias de cultura da cidade de São Paulo (R$ 400 milhões) e do governo do Estado (R$ 1 bilhão) e que o do Ministério da Cultura (R$ 800 milhões, que se somam a R$ 2 bilhões vinculados a leis de incentivo).

A evolução do Sesc foi objeto de reportagem recente do "The New York Times", citada como contraponto ao encolhimento vivido por instituições culturais americanas e europeias em função da crise. "Num período mais recente, nosso orçamento duplicou a cada seis anos aproximadamente. Incrível, não?", comentou Danilo Santos de Miranda, 68, à frente da diretoria regional do Sesc desde 84.

Só no ano passado, as 33 unidades do Sesc foram palco para 7.718 espetáculos teatrais, 5.033 shows e 5.397 oficinas artísticas. Para 2012, estão previstas temporadas com artistas de ponta como o ator e encenador americano Robert Wilson, e o multimídia britânico Issac Julien.

"O Sesc se firmou por ter um foco muito objetivo, de oferecer cultura para todos. E cultura não é só arte, espetáculo e patrimônio. Tem a ver com valores, ética e estética, com a construção de uma sociedade ancorada na educação contínua e permanente", diz Miranda à Folha.

De acordo com Miranda, um quarto da verba do Sesc é destinada à expansão e renovação das unidades. Guarulhos e Osasco devem ganhar novas sedes. A de Sorocaba recebeu investimento de R$ 70 milhões e será reinaugurada no primeiro semestre.

Para se ter ideia, a reforma da Sala São Paulo, tido como o melhor espaço de concertos no país, custou R$ 100 milhões em valores atualizados.

MINISTÉRIO DA CULTURA

No começo do ano, em meio a uma especulação sobre a queda da atual ministra da Cultura, Ana de Hollanda, um movimento liderado pela atriz Fernanda Montenegro elaborou um abaixo-assinado defendendo a indicação de Miranda para o posto.

A carta entregue à ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, começava assim: "um sonho acalentado por muitos artistas e produtores culturais brasileiros é o de ter no Ministério da Cultura um grande gestor com experiência na área".

Miranda já recebeu convites para as secretarias municipal e do Estado. Transita com desenvoltura entre tucanos e petistas, sem tomar partido. Participou da comissão que criou o Fome Zero e de ações do ministério da Cultura na gestão de Gilberto Gil.

Para o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, caso fosse confirmado no posto, Miranda enfrentaria uma dificuldade inédita em seu histórico. "Não só pela verba, que é muito menor. Um cargo como esse pressupõe mais trânsito com os políticos", pondera.

Ontem, no lançamento do Circuito Sesc de Artes 2012, Miranda recebeu prefeitos, secretários e autoridades municipais para apresentar a programação que percorrerá 88 cidades do Estado com 200 artistas brasileiros e estrangeiros numa espécie de caravana cultural. O circuito existe desde 98 e neste ano registra seu recorde de cidades atingidas -em 2011 foram 80.

Ex-seminarista jesuíta, carioca, vivendo em São Paulo desde a década de 60, ele não se furta a comentar alguns temas sensíveis da agenda do Ministério da Cultura. "Depois de 40 anos atuando em gestão cultural, não posso dizer que não tenho ideias sobre fatos importantes da nossa realidade. Não quero parecer alguém que está se propondo a substituir a ministra. Receio que isso soe como intromissão indevida em um campo para o qual não fui convidado. Há um desejo de mudança que tem sua justificativa, mas essa é uma decisão de uma pessoa só. "

Ele defende a revisão da Lei Rouanet. "O dinheiro é público, portanto o poder público deve ter participação decisória sobre como administrá-lo. O que não pode é inverter essa equação. O recurso principal deve vir do erário -e não de lei", diz.

"O Sesc é um bom exemplo. Atuamos em nome de todas as empresas que contribuem para mantê-lo, sem atuar em nome de nenhuma delas individualmente."

Com relação à polêmica em torno da fiscalização do Ecad, Miranda afirma: "a sociedade representada pelo poder público tem o direito de ver como isso funciona. Esta é uma questão delicada porque existem posições contrárias na administração atual. Mas é uma questão relacionada ao poder público, às vezes até um caso de polícia".

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