Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Livros

Crítica biografia

Com vícios e virtudes, volume tenta desvendar mito Vargas

Livro híbrido sobre ex-presidente brasileiro mescla biografia e romance

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Os Tempos de Getúlio Vargas", de José Carlos Mello, é um livro híbrido -e essa é a fonte de seus vícios e virtude.

Não é apenas história, ou biografia, ou memória, ou romance, mas tudo junto. É verdade que o autor desenhou fronteiras razoavelmente nítidas entre os estilos justapostos, mas esse cuidado, se orienta a leitura, reveste a obra de um esquematismo incômodo.

O livro trata de Getúlio à frente do poder central, ou seja, vai de 1930, quando ele liderou a revolução que pôs fim à Primeira República, até seu suicídio, em 1954.

A virtude do hibridismo foi ter dado ao autor a possibilidade de narrar fatos históricos densos com a leveza da crônica. Valendo-se de material bibliográfico adequado - como o "Diário" de Vargas, publicado em 1995, com registros entre 1930 e 1942 - Mello passeia pela vida do político brasileiro mais importante do século 20.

Quanto aos vícios, o mais grave deles é de estrutura. O livro começa num registro pessoal, com lembranças de suicídios que marcaram a vida do narrador quando criança. Previsivelmente, tais reminiscências preparam o terreno para a abordagem do suicídio do protagonista.

A previsibilidade, embora enfraqueça a narrativa, é uma questão menor. O problema surge um pouco adiante quando o autor, depois de se perguntar sobre as razões de o país "prantear" o líder morto, diz: "A resposta exige um recuo no tempo".

A partir do corte abrupto, na página 79, é como se um novo livro começasse a ser escrito. Saem as lembranças, entra o didatismo. A dimensão memorialista só será recuperada muito mais tarde, o que empurra a obra para uma espécie de limbo.

Outros vícios são pontuais. Atribuir pensamentos a personagens reais é sempre uma operação de risco em uma obra que se pretende de não ficção. A licença deve ser usada com parcimônia, e só quando compensar do ponto de vista narrativo. O Getúlio de Mello, no entanto, "pensa" em coisas triviais, como poder falar por telefone com a família em Nova York.

"Os Tempos de Getúlio Vargas", no entanto, não deixa de ter apelo ao leitor pouco familiarizado com sua biografia. Mello o ajuda a digerir um período fundamental da história do Brasil.

OS TEMPOS DE GETÚLIO VARGAS

AUTOR José Carlos Mello

EDITORA Topbooks

QUANTO R$ 64,90 (608 págs.)

AVALIAÇÃO regular

OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas).

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.