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Análise

Claude Miller deixa obra entre o cinema comercial e o de autor

Morto na última quarta, cineasta francês promoveu retorno às tramas policiais

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O cineasta francês Claude Miller, morto na última quarta, aos 70 anos, em decorrência de um câncer, pertenceu a uma geração que teve a nouvelle vague como horizonte e limite.

A proposta de agregar assinatura a trabalhos de perfil comercial marcou a trajetória de Miller e o coloca numa posição intermediária entre, de um lado, os filmes de gênero com atores de prestígio, bom acabamento e eficácia narrativa, e de outro, o cinema de autor, de maior ambição estética e intelectual.

Antes de assinar seus próprios trabalhos, Claude Miller atuou como assistente de direção de ícones do cinema moderno francês, como Robert Bresson (em "A Grande Testemunha", de 1966), Jacques Demy ("Duas Garotas Românticas", de 1967) e Jean-Luc Godard (em "Weekend à Francesa", de 1967).

Foi, no entanto, após desempenhar a função de diretor de produção em todos os sete filmes dirigidos por François Truffaut entre 1969 e 1975, de "A Sereia do Mississipi" a "A História de Adèle H.", que ele ganhou um lugar como herdeiro.

Desde "A Melhor Maneira de Andar", seu primeiro longa, um drama escolar feito em 1976, Miller foi tratado como um cineasta sob influência, especialmente associado a temas recorrentes de Truffaut.

O interesse comum dos dois realizadores pela adolescência, como um tempo de indecisões, rebeldias e, sobretudo, como um momento de suspensão anárquica das regras que regem o universo adulto, determina a boa acolhida a filmes como "A Impudente" (1985) e "A Pequena Lili" (2003).

Trata-se de uma tendência persistente em títulos mais tardios, como "Um Segredo em Família" (2007) e "Feliz que Minha Mãe Esteja Viva", de 2009, que o diretor realizou em parceria com seu filho Nathan Miller.

A cumplicidade com Truffaut também valeu a Miller o momento mais bem-sucedido de toda a sua carreira, com "Ladra e Sedutora" (1985). Na obra, ele filmou com o mesmo tipo de encanto um dos roteiros do autor, morto um ano antes.

Como alternância a essa filiação, Miller optou em alguns momentos pelo exercício de gênero policial.

Os filmes criminais "Cidadão sob Custódia" (1981), "Ronda Mortal" (1983) ou "Betty Fischer e Outras Histórias" podem não ter encontrado boa acolhida nas páginas mais elitistas dos "Cahiers du Cinéma", mas têm o suficiente para satisfazer os que preferem "qualidade", a combinação equilibrada de elenco, temas e acabamento desde sempre associada ao cinema produzido na França.

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