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Análise

Com talento e disciplina, músico quebra padrões e impressiona

JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO

O sucesso do pianista chinês Lang Lang pode ser comparado ao de seu próprio país, que vem mostrando sua forca econômica.

Sua ascensão reflete um movimento que impressiona o mundo ocidental, mas que também causa estranheza pelas diferenças culturais.

No início de sua carreira, o pianista gerou desconforto aos críticos que se depararam com um prodígio do teclado preocupado demais em fazer "caras e bocas".

Nas escolas tradicionais de piano, os movimentos corporais chegam a ser milimetricamente calculados para que as nuances sonoras sejam produzidas. No final, o pianista deve se destacar pela perfeição do som. Por isso, Maurizio Pollini, Alfred Brendel e Andras Schiff, para citar a "velha guarda", são tão contidos no palco.

Escolhem sempre as roupas neutras e a casaca preta para não desviar a atenção do público. O objetivo é destacar somente a música.

Com os chineses é diferente. Apesar de "importarem" professores ocidentais para ensinar seus cerca de 40 milhões de alunos de piano, não abrem mão de sua marca, que está quebrando padrões.

Não é por acaso. Misturam talento com disciplina. Aí se transferem para a Europa ou EUA e a marca pessoal começa a ser impressa. Foi assim com Lang Lang, que se tornou um gênio excêntrico. O astro usa cabelo arrepiado, tênis de marca colorido e já tocou em um piano vermelho (usando casaca vermelha). Houve quem dissesse que o exagero o tornava menor.

Lang Lang, no entanto, só se tornou maior ao assumir sua marca. Apadrinhado pelo pianista e regente Daniel Baremboim, ele busca o refinamento sonoro, aquilo que o próprio pianista chama de uma performance mais intimista. Até hoje, vinha se dedicando a peças que se "expressam para fora", um jeito de chamar o exibicionismo.

Os puristas precisam se acostumar a esse ambiente mais flexível ou fechar os olhos para os preconceitos que impedem, em boa parte, uma avaliação mais justa de novos talentos.

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