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Cinema brutal de Abel Ferrara ganha mostra

Diretor virá a São Paulo no fim do mês; retrospectiva da carreira começa hoje no Rio

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

O diretor Abel Ferrara é um apaixonado pela profissão. Seus filmes sempre dividem a crítica, mas ninguém nega a dedicação do cineasta ao ofício. Afinal, para poder começar a carreira atrás das câmeras, o nova-iorquino dirigiu e atuou em um filme pornô com a própria namorada.

"A gente fazia o que fosse preciso", diz Ferrara à Folha. "Em troca, não abríamos mão de nossa liberdade criativa."

Essa "liberdade" será exibida em mostra que começa hoje no CCBB do Rio e chega a São Paulo no dia 25, quando o cineasta faz um debate.

"É agora ou nunca. Não estive no Brasil antes, mas amo a música do país", exalta o diretor de 60 anos.

Mas não se deixe enganar pelas palavras doces. O cinema de Ferrara passa longe de ser açucarado. Ele é famoso por filmes que retratam a pior espécie de ser humano -policiais corruptos, traficantes, assassinos, mafiosos.

Foi assim que chocou em "O Assassino da Furadeira" (1979), no qual também faz um artista plástico que sai para matar com, óbvio, uma furadeira. Nos anos 1980, tentou a vida como diretor de "Miami Vice", a convite do amigo Michael Mann, então produtor da série, mas precisava de mais espaço.

E, com a liberdade, produziu seus dois melhores longas: "O Rei de Nova York" (1990), retrato brutal do poder das facções criminosas, e "Vício Frenético" (1992), sobre um policial corrupto viciado e violento, que ganhou até um remake bastardo de Werner Herzog, em 2009.

"Gosto dos filmes de Herzog, mas ele roubou meu título, disse que não me conhecia e que não tinha visto o meu filme", reclama Ferrara, que não viu a refilmagem protagonizada por Nicolas Cage.

"Fiz 'Vício Frenético' com suor e sangue, e eles simplesmente pegaram o nome porque não conseguiriam o dinheiro de outra maneira."

Irônico, porque Ferrara hoje é pouco lembrado como parte da geração que mudou Hollywood nos anos 1970.

Foi indicado para os festivais de Cannes (pela sequência "Os Invasores de Corpos - A Invasão Continua"), em 1993, e Berlim (o vampírico "The Addiction"), em 1995. Mas, desde o polêmico "Maria" (2005), anda esquecido, apesar de cultuado por Quentin Tarantino -a quem chama de "meu garoto"- e pela "geração internet".

"Sei que é a maneira que eles encontram de ver meus filmes, mas é pirataria. Não se deve roubar o trabalho de outra pessoa", afirma ele.

"Por isso estou indo para o Brasil. Quero arranjar distribuição para meu filme '4:44 Last Day on Earth'."

Ferrara até ficaria mais aqui. Mas retornará rapidamente a Nova York, onde prepara um longa baseado em escândalos sexuais como o de Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-geral do FMI.

ABEL FERRARA E A RELIGIÃO DA INTENSIDADE

QUANDO de hoje a 22/4 (em SP a partir de 25 de abril)
ONDE CCBB-RJ (r. Primeiro de Março, 66, tel. 0/xx/21/3808-2020)
QUANTO R$ 6
CLASSIFICAÇÃO a depender de cada filme

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