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Crise expõe racha na Biblioteca Nacional

Conselho editorial da 'Revista de História' ameaça renunciar após editor ser demitido em episódio de tom político

Como decorrência, Fundação Biblioteca Nacional lançará edital para redefinir funções em suas publicações

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

Confrontado com uma crise que levou o conselho editorial da "Revista de História da Biblioteca Nacional" a ameaçar renunciar em apoio ao ex-editor Luciano Figueiredo, demitido no mês passado, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim, decidiu "zerar a conta".

Ele pretende lançar nas próximas semanas um edital que convocará interessados em coeditar suas publicações -inclusive a "Revista de História", atualmente editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin)-, definindo critérios e funções para cada parte.

Com isso, Amorim pretende resolver dois problemas de uma vez: adequar-se "às exigências recentes dos órgãos públicos de fiscalização" e encerrar a disputa entre a Sabin e o conselho editorial.

A primeira é uma sociedade privada que cuida da parte administrativa e financeira da publicação. O segundo, responsável pelo conteúdo editorial, é formado por acadêmicos como José Murilo de Carvalho (UFRJ), Lilia Moritz Schwarcz (USP) e o membro da Academia Brasileira de Letras Alberto da Costa e Silva.

Os conselheiros ameaçaram renunciar após a Sabin demitir Figueiredo "por razões administrativas internas" não especificadas, sem consultar o conselho.

Semanas antes, o então editor havia demitido o jornalista Celso de Castro Barbosa após divergências relacionadas a uma resenha escrita por ele sobre o livro "A Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Jr., publicada no site da revista.

Em um de seus trechos, a resenha diz que o livro joga "uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos". Em outro, afirma que José Serra "é quem tem a imagem mais chamuscada, para não dizer estorricada, ao fim da 'Privataria Tucana'".

O texto gerou protestos públicos do PSDB e foi tirado do ar, mas, segundo a Sabin, nem a demissão de Castro Barbosa por Figueiredo nem a deste pela sociedade tiveram qualquer componente de pressão política.

REUNIÃO SEM ACORDO

O presidente da FBN pretende resolver o impasse entre Sabin e conselho formalizando, no edital, as funções de cada um: a sociedade gere a revista, e os conselheiros cuidam do conteúdo e da indicação do editor, sem vetos.

"Houve certamente uma crise, que está sendo resolvida. Vamos acertar entre as partes um novo termo de cooperação", disse Amorim.

Apesar de representantes da Sabin e do conselho ouvidos pela Folha terem elogiado a mediação de Amorim, o fim para a crise não será tão simples, já que a solução proposta permitiria a recondução do demitido Figueiredo ao comando editorial.

"Ele [Amorim] sabe, porque eu disse com todas as letras, que a volta do senhor Luciano Figueiredo é fora de questão, e a Sabin vai levar isso até o fim", disse Jean-Louis de Lacerda Soares, presidente da sociedade.

"Quem decide sobre a contratação de um funcionário é a empresa que o paga. A Sabin pode, por razões de independência, achar que um funcionário não pode entrar no quadro", afirmou.

O conselheiro José Murilo de Carvalho diz que "foi discutido claramente na reunião que não existiria poder de veto" às escolhas do conselho.

"Uma das partes do acordo é dividir claramente as funções. Um vai ser estritamente editor, e a parte administrativa fica com outra pessoa. Agora, se a Sabin vai se negar a pagar o editor que o conselho escolher..."

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