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De volta ao rock

Depois de álbum de covers, Nando Reis se isola em Seattle para gravar disco com produção de Jack Endino, que moldou a sonoridade do Nirvana e foi figura central do movimento grunge dos anos 1990

Decio Matos Jr. & Alexandre Samori/Divulgação
Nando Reis e o produtor Jack Endino em estúdio de gravação em Seattle
Nando Reis e o produtor Jack Endino em estúdio de gravação em Seattle

THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A SEATTLE

"Rapaz, que saudade de feijão com arroz!". O desabafo do cantor e compositor Nando Reis foi feito no mês passado, em um charmoso restaurante de frutos do mar em Seattle, no extremo noroeste dos Estados Unidos.

Ele estava então em sua sexta e última semana consecutiva na gelada cidade norte-americana, para onde levou sua banda para trabalhar com o produtor Jack Endino, mítica figura do lugar.

Endino foi peça essencial no movimento grunge, rock de guitarras nervosas que estourou na cidade no início dos anos 1990 com Nirvana, Mudhoney, Soundgarden, Green River (que depois daria origem ao Pearl Jam) e Screaming Trees.

Não por coincidência, todas essas bandas tiveram discos produzidos por Endino, que, na década de 90, veio ao Brasil começar várias produções de álbuns dos Titãs.

Reis se revela surpreso com o trabalho ao lado de Endino, principalmente na fase de mixagens que se desenrolava no dia em que aconteceu a entrevista à Folha.

"Ele não pega uma música às 11h da manhã e fica nela até de noite mixando. Pula de uma música para outra, mexe uma coisinha nessa daqui e depois deixa para voltar a ela depois. É como uma cebola, por camadas. Tenho certeza que, depois de cinco semanas, ele tem todas as músicas na cabeça."

Em seu segundo disco solo, "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro" (2000), Reis gravou pela primeira vez com Endino em Seattle, mas a mixagem foi feita depois, no Brasil.

O último disco do brasileiro, produzido por Carlos Pontual, ex-guitarrista de sua banda, foi "Bailão do Ruivão" (2010), um projeto de covers.

Depois de dez anos com a mesma banda, Reis sentiu que precisava sair do usual, tentar um recomeço. "A minha vinda para cá tem esse sentido de descontextualizar todo mundo, colocar a gente numa zona de risco."

"Eu nunca gostei de gravar em São Paulo porque a vida ordinária exige demais. Claro que falo com minha família todos os dias. Mas isso é o meu trabalho. Precisam entender que o papai não trabalha todos os dias num banco, mas, de dois em dois anos, precisa ir para Saturno, ficar bem longe."

A gravação é mais agradável para ele do que os shows. Diz gostar do ritual de se concentrar para gravar.

"Escrever canções é o meu trabalho, mas a urgência preliminar é comigo mesmo. Uma angústia adolescente que virou minha profissão. Minha angústia é nunca mais conseguir escrever uma música. E eu a vivo diariamente", conta o músico.

Em 2010, não conseguiu compor nada o ano inteiro, uma música sequer. Confessa que o "Bailão" foi um projeto antigo que só realizou porque não tinha outra coisa para gravar.

"Fico contente de ter escrito essas novas músicas em 2011. De repente, jorrou", conta em tom de desabafo. Tinha outro trabalho encaminhado, um disco em parceria com Samuel Rosa, do Skank, que acabou adiado.

Na audição de algumas faixas, o repórter escuta uma longa canção rock and roll, "Pré-sal", e mais duas baladas. Todas entrariam facilmente na seleção de melhores trabalhos do cantor.

No disco, ainda sem título e com previsão de lançamento para agosto, Reis aproveita o clima de recomeço para resgatar coisas que há tempos não fazia, como tocar violão com corda de náilon e gravar um reggae.

"Ir para bem longe às vezes é a chance de chegar bem perto de você mesmo", filosofa Nando Reis, esperando por um prato de feijão com arroz.

O jornalista THALES DE MENEZES viajou a convite da produção de Nando Reis

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