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Homem difícil

Lançamento de "Contra o Dia", do americano Thomas Pynchon, alimenta culto sobre sua produção e personalidade reclusa

Divulgação
Thomas Pynchon aos 19 anos
Thomas Pynchon aos 19 anos

RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Desde que lançou "V", seu primeiro romance, em 1963, o americano Thomas Pynchon sumiu como um clandestino. Há 49 anos tem alargado os parâmetros do autor recluso, quase ao ponto de transformar autores recolhidos, como J.D. Salinger (1919-2010) e Rubem Fonseca, em fanfarrões midiáticos.

Pynchon, de quem se conhecem poucas fotos, nunca deu entrevistas e ignora solenemente qualquer estratégia de lançamento. Dá notícias ao mundo por meio dos seus romances, sete ao todo, sendo o mais célebre deles "O Arco-Íris da Gravidade", de 1973. Desses, "Contra o Dia", lançado nos EUA em 2006 e agora no Brasil com tradução de Paulo Henriques Britto, é um dos mais luminosos.

O tijolo de mil páginas, que trata da saga de duas famílias inimigas entre 1893 e o início da Primeira Guerra Mundial, conectada a centenas de outras narrativas paralelas, personagens, temas e cenários, justifica o posto outorgado por Harold Bloom, decano da crítica literária, que definiu o autor como pilar da literatura americana contemporânea junto a Philip Roth, Don DeLillo e Cormac McCarthy.

"Ele não é um antigo grande nome carregado pelos louros do passado. É um autor com uma obra em progresso", explica o editor da Companhia das Letras, André Conti, sobre o que sustentaria o seu prestígio entre críticos e leitores.

Enciclopédico, hermético, difícil: ouve-se de tudo sobre a obra de Pynchon, dos escritores americanos talvez o que mais tenha se aproximado do radicalismo estético do irlandês James Joyce. De fato, o é.

ESFORÇO HERCÚLEO

Traduzi-lo, então, é um esforço hercúleo. "Contra o Dia" tomou mais de um ano de Britto, que o considera, como compensação, "um dos autores mais colaborativos com o tradutor". Impressão confirmada por Caetano Galindo, tradutor de "Vício Inerente", lançado pela Companhia das Letras em 2011.

"A reclusão dele me fazia pensar em alguém inabordável, mas se deu justo o contrário", diz Galindo, um dos poucos que trocaram faxes -é o meio como Pynchon trata seus assuntos- com o autor, para discutir soluções linguísticas.

Correspondência essa que, nas mãos da seita de leitores reunidos em torno de sua obra, teria valor inestimável.

A Folha ouviu membros do fórum Spermatikos Logos, a mais antiga das listas (desde 1993) dedicadas a esmiuçar referências históricas, pessoais e literárias contidas nos romances do recluso autor, além de qualquer sinal de sua existência.

"É como se tivéssemos encontrado o tesouro e estamos desde então fazendo um inventário", diz Larry Owen, um desses incansáveis.

Pynchon, de seu apartamento em Nova York, onde vive com a mulher Melanie e o filho Jackson, segue, aos 74 anos, alimentando um rico espólio literário, como se construísse uma catedral para seus fiéis.

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