Televisão

Cheadle vai de agente sisudo a executivo pouco confiável

O ator Don Cheadle vive extremos em produções recentes. Indicado ao Oscar em 2005 pelo sério "Hotel Ruanda", agora, aos 47, anda por rumos mais bem-humorados.

No longa "O Guarda", estreia na direção de John Michael McDonagh, que a Fox lança diretamente em DVD em maio, ele é um agente do FBI austero, seguidor tão bovino das regras que bate de frente com o personagem de Brendan Gleeson, dono do título do filme.

Beberrão, politicamente incorreto e farrista com prostitutas, o sargento Boyle (Gleeson) se vê às voltas com traficantes numa cidadezinha portuária da Irlanda.

Já o parceiro Wendell Everett (Cheadle) tenta impor seu jeito nas operações para desbaratar a quadrilha. "Ele é um cara honesto demais", define à Folha, por telefone, durante intervalo nas filmagens do novo longa de Robert Zemeckis ("O Expresso Polar").

"Mas Wendell me parece meio arrogante, contudo, porque acha que sabe mais do que as pessoas da região aonde ele chega para investigar. Ele não vê o panorama geral, perde a perspectiva."

Por isso o fanfarrão Boyle se dá melhor na investigação e parte numa missão suicida contra os criminosos.

Enquanto isso, na TV, a HBO estreia na próxima segunda a série "House of Lies" -já renovada para uma segunda temporada nos EUA. Embora também na linha de comédia, não poderia ser mais oposta a "O Guarda".

Cheadle vive um consultor que faz de tudo para parecer necessário a seus clientes, mas, em vez de resolver os problemas das empresas, se autopromove e cai na farra com o primeiro rabo de saia que aparecer na frente -mesmo que seja o da ex-mulher.

A série aposta no politicamente incorreto, com machismo, sexo casual correndo solto e xingamentos mil contra as mulheres. É para rir, mas às vezes é de chorar de ruim.

Mas que não se pense que Don Cheadle é um sacana na vida real. Engajado na política, ele tem uma associação de ajuda humanitária em Darfur, no Sudão. "Ainda estou bem envolvido com as questões que levantamos em 'Hotel Ruanda'", afirma.

E também com o funcionamento de Hollywood. "O cinema tem uma mentalidade corporativa, de só querer lucrar e fazer muitas sequências de um filme. Esse pensamento nunca ajudou a mudar as coisas para as minorias", comenta sobre a participação dos negros nas produções norte-americanas.

"Não acredito em definir o elenco desconsiderando de todo a cor da pele, mas acho que isso não deveria ser um fator determinante. O que funcionou para mim foi esperar e ser muito seletivo. Aceito riscos calculados."