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"Criei disfarce para falar de tormentos"

Laura Albert diz que histórias de JT LeRoy foram inspiradas em fatos que ela presenciou em clínicas psiquiátricas

Escritora se define como mentirosa compulsiva e se afastou de marido e amiga que encarnava sua criatura

CRÍTICO DA FOLHA

A americana Laura Albert, 46, se diz cansada de responder à pergunta "Por que você inventou JT LeRoy?".

"Ele não foi uma farsa, como diz a mídia", afirma a autora, por telefone, de sua casa em San Francisco.

"Prefiro vê-lo como um véu, um disfarce que usei para poder falar de coisas que me atormentavam e que eu não conseguia pôr no papel como Laura Albert. É como dizia Oscar Wilde: 'Dê ao homem uma máscara, e ele lhe dirá a verdade'."

Albert afirma estar ansiosa com a viagem ao Brasil. Além de Brasília, ela visitará o Rio, para ver a encenação de Paulo José, protagonizada por Natália Lage, de um texto sobre sua história ("JT, um Conto de Fadas Punk", peça de Luciana Pessanha, em cartaz no CCBB carioca até 27/5).

"Será a minha primeira vez aí. Em 2005, JT foi ao Brasil, mas eu não. Fiquei arrasada."

Claro que, por "JT", ela quer dizer Savannah Knoop, que o "interpretava" em aparições públicas.

"Recebo muitas cartas do Brasil, de pessoas que se emocionaram e foram tocadas por meus livros", diz

Albert. "Minha maior esperança é que as pessoas agora avaliem os livros pela qualidade do texto, e não pelo escândalo que eles causaram."

Quando lembro a Albert que o escândalo foi causado por ela mesma, ao "inventar" o personagem e enganar meio mundo, ela diz: "Mas eu sempre disse que os livros eram obras de ficção. JT foi só uma voz que eu inventei".

Seria um caso de dupla personalidade? "Acho que meu caso transcende isso. Foi um novo tipo de desordem, que não consigo definir."

Albert diz que muitas das histórias escabrosas que colocou nos livros de LeRoy foram inspiradas em fatos que presenciou durante suas diversas internações em clínicas psiquiátricas.

Ela admite ser uma mentirosa compulsiva desde a infância e conta que ligava para serviços de auxílio mental e se fazia passar por diferentes pessoas, criando vozes para cada uma delas.

Por anos, Albert criou uma voz para LeRoy, que usou em longas conversas telefônicas com jornalistas, fãs e celebridades (deu uma entrevista para a Folha, em 2002).

Também manteve um intenso diálogo com Billy Corgan, líder do grupo de rock Smashing Pumpkins.

Albert chora quando fala de Corgan: "Billy foi a pessoa mais doce e compreensiva que já conheci. Um anjo. Ele entendeu a situação de cara e não se magoou. Pelo contrário. Ele também vem de uma situação familiar complicada e disse que me entendia perfeitamente. É um dos meus melhores amigos e me deu muita força".

Depois da revelação da farsa, a vida de Albert entrou em parafuso. Ela se separou do companheiro de muitos anos, Geoffrey Knoop, um músico com quem tocava em bandas punks e que teve participação ativa na criação de LeRoy. Albert e Knoop têm um filho.

Ela também brigou com Savannah Knoop, a "figura pública" de JT LeRoy. Savannah publicou, em 2008, um livro contando os bastidores de toda a história.

"Nós éramos muito próximas", diz Albert. "Mas a situação toda nos separou. Sabe, foi muito difícil para

Savannah. Num dia ela estava no tapete vermelho em Cannes, andando à frente de Angelina Jolie. Logo depois, trabalhava de garçonete. Não é qualquer um que suporta isso. Ela pirou."

Laura Albert diz estar colaborando com Jeff Feurzeig (diretor de um ótimo filme sobre o perturbado músico Daniel Johnston) em um documentário que pretende expor toda a história da criação de JT LeRoy.

"Quero contar tudo: minha infância, as muitas internações por que passei em clínicas, minha história no punk-rock, tudo. Quero passar essa história a limpo."

(ANDRÉ BARCINSKI)

LAURA ALBERT NA BIENAL
QUANDO amanhã, às 18h, palestra na Esplanada dos Ministérios, seguida de sessão de autógrafos
QUANTO grátis (retirar ingressos a partir das 17h)

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