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Crítica / Romance Perda do pai movimenta trama de livro de James Agee que ganhou prêmio NELSON DE OLIVEIRAESPECIAL PARA A FOLHA Três mortes estão relacionadas com o romance "Uma Morte em Família", de James Agee (1909-1955). Primeiro, a morte de Jay Follet, um dos personagens principais do romance. Depois, a de Hugh James Agee, pai do escritor, morto num acidente de automóvel. E, por fim, a do próprio romancista, deixando inacabada sua obra mais famosa. Esses três passamentos bagunçaram a vida de pessoas reais e ficcionais. A morte do pai afetou tão profundamente o escritor que precisou ser representada décadas depois, agora literariamente, numa espécie de exorcismo emocional. "Uma Morte em Família" (1957) é um romance autobiográfico, sobre a perda de um ente querido e as rachaduras que ela provoca no edifício familiar. Publicado postumamente, recebeu o Prêmio Pulitzer em 1958. CONTROVÉRSIA Os editores tiveram certo trabalho para compor "Uma Morte em Família" a partir dos originais. Nada precisou ser reescrito, mas um trecho de cerca de sete páginas foi eliminado e um prólogo foi acrescentado. Além disso, avisa uma nota editorial, foram acomodadas no corpo do romance "diversas cenas que escapam ao quadro temporal da narrativa básica". Décadas depois, essa organização desagradou Michael Lofaro, professor da Universidade do Tennessee, que providenciou sua própria versão do romance. Estava armada a encrenca. A versão lançada pela Companhia das Letras é a clássica, de 1957. Jamais saberemos que forma Agee daria ao romance, se tivesse tido tempo de finalizá-lo. A forma como chegou a nós, se não é perfeita, está muito longe de decepcionar. A morte de Jay Follet, num acidente de automóvel, nem sequer é narrada diretamente. Ficamos sabendo de maneira indireta, por terceiros. Mas esse acidente põe em movimento um narrador poderoso, maleável, atento à fala popular e à ambiguidade psicológica, ao que os personagens dizem e ao que realmente estão pensando. As convicções mais íntimas da família inteira, cheias de tensão racial e religiosa, são reveladas. Ternura e mesquinharia andam juntas, em cenas agudas. Até a conversa mais inocente, com as crianças, torna-se, assim, um laboratório comportamental. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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