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Yazbek usa depoimento pessoal para reinventar mito de Fausto Autor volta à cena para viver escritor em crise em "Fogo-Fátuo" GABRIELA MELLÃODE SÃO PAULO Em busca de um teatro mais relevante para si próprio e para seu mundo, Samir Yazbek trocou a atuação pela criação dramatúrgica. A mesma obsessão traz o autor de volta à cena 17 anos depois do afastamento. Em "Fogo-Fátuo", espetáculo de sua autoria que estreou anteontem, o premiado dramaturgo encara os refletores ao lado de Helio Cicero, seu parceiro na Companhia Teatral Arnesto Nos Convidou. O embate é fictício, mas espelha questionamentos reais. Yazbek projeta-se no mito de Fausto. Insere angústias pessoais e reflexões artísticas ao relatar o pacto que o personagem faz com Mefisto em troca de conhecimento. Revisita essa história imortalizada por Goethe, Thomas Mann e Fernando Pessoa, entre outros autores, desnudando-se por completo. "Não retorno ao palco por desejo de retomar meu trabalho como ator, mas por perceber que a exposição era imprescindível para a criação do texto." Sob direção de Antônio Januzelli, o dramaturgo interpreta um escritor em crise, papel que se confunde com o dele na vida real. Sobre uma mandala (objeto ritualístico que para Jung simboliza a luta por totalidade), questiona-se sobre sua contribuição no mundo como artista. Também mostra-se desgostoso com os rumos atuais da arte. MEFISTO FRÁGIL Cicero vive um Mefisto provocador. Indaga sobre o verdadeiro talento do escritor, desdenha de seu sucesso e o incita a escrever em vez de reclamar. Mas se revela frágil ao expor sua impotência na contemporaneidade, quando o mal se banalizou. Mefisto ainda se empenha em corromper almas íntegras, mas já é difícil encontrá-las. "Vocês descobriram a possibilidade de exercerem o mal sem nenhum constrangimento e sentem prazer com isso! Vivem num estado de hipnose, caminhando para o abismo", despeja em cena. Para se reinscrever na vida contemporânea, a representação do mal sobre a Terra pede os serviços do escritor. O embate mostra-se transformador para Fausto. Coloca-o diante de seu lado mais obscuro, algo necessário para um artista que se propõe a desvendar a alma humana em profundidade. A descoberta se materializa na forma de um vidro que desce sobre a cena e retrata Mefisto como espelhamento do escritor. Para Yazbek, "é fundamental que a arte aponte o dedo na sombra do homem. Principalmente se parecemos viver num mundo edulcorado". Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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