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Crítica / Tragédia Companhia Elevador turbina com audácia texto grego do século 5º a.C. LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA Tragédia grega turbinada. "Ifigênia", realização da companhia Elevador de Teatro Panorâmico a partir de peça do grego Eurípides, sobrepõe, com ganhos e perdas, estratégia radical de montagem à trama original. A história da filha do general Agamemnon, sacrificada em troca dos ventos que levariam a esquadra grega até Troia, é processada pelo dramaturgo Cássio Pires de modo a valorizar o coro e a permitir a prática do "campo de visão", método de encenar desenvolvido pelo diretor Marcelo Lazaratto. Ali, atores desenvolvem uma sintonia fina entre si de modo a reagirem às mínimas ações uns dos outros. Em "Ifigênia" a proposta é ampliada a uma ambiciosa flutuação das falas a cada dia, já que os nove atores dominam o texto e o compartilham de forma improvisada. Isto reforça o caráter coral da peça, com todos podendo assumir falas de protagonistas. De fato, a metodologia norteou já a adaptação. A dramaturgia de Pires traçou o arco dramático assumindo a metáfora das ondas do mar como unidades inseparáveis de um todo que as contém. Cada membro do coro é uma onda, que vez ou outra carrega a voz dos protagonistas. A opção gera uma narrativa fluente e de rara intensidade poética no que é dito. Em contrapartida, uma das novidades de Eurípides, o foco na psicologia dos personagens, perde força. As vozes dos heróis que provocam e sofrem o infortúnio trágico, centrais para a efetivação do impacto sobre os espectadores, tornam-se fugazes. O prejuízo na fruição da tragédia é recompensado pelo desempenho do elenco, que reflete uma aguda consciência coletiva e comprometimento com a experiência em curso. Tal é a vibrante homogeneidade alcançada que não cabe destacar alguém entre os intérpretes. A cenografia de Lu Bueno concentra-se em uma bela flor suspensa que, como tela, é sol inclemente, olhar dos deuses ou ampulheta ao vento. O adereços adjacentes -sombrinhas cobertas de teias- parecem supérfluos e contrastam com a economia geral do espetáculo. "Ifigênia" é um marco na trajetória da Elevador, cujo mérito maior foi lançar-se em um experimento audacioso sem medo dos riscos. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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