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Anvisa ataca cigarros com sabor, mas jovens resistem a parar de fumar

RENATA D’ELIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Bia (nome fictício) tem 15 anos e fuma a caminho da escola, da casa dos amigos, no ponto de ônibus. Mesmo tendo recebido há pouco um diagnóstico de câncer na tireoide. Começou aos 13.

"Meus amigos regulam cigarro, minha mãe nega dinheiro. Sei que faz mal, mas não quero parar agora. A menos que o médico diga que vou morrer por causa do cigarro, e logo."

O caso é extremo, mas o apego é comum. Os jovens sabem que faz mal, mas é raro ouvir algum deles falando em abandonar o vício.

Recentemente uma resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou a proibição de cigarros aromatizados ou com sabor -como menta, baunilha ou cravo- a partir de agosto de 2014.

Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam que 24% dos estudantes entre 13 e 15 anos já experimentaram tabaco. Um em cada quatro se vicia e 60% deles prefere os aromatizados.

É o caso do estudante Lucas Baranyi, 20, que só fuma mentolado. Começou aos 18 anos, por influência de uma ex-namorada.

"Acho que rola um autoengano porque a fumaça e o cheiro são mais fracos e parece que não faz tão mal."

Sobre a proibição da Anvisa, Baranyi é taxativo: "Não acho que essas proibições sejam inteligentes. Se eu parar, não paro feliz. Talvez apenas mude de marca".

Rebecca Catalani, 20, prefere os regulares e refuta a decisão da Anvisa. "Acho errado quando interferem nas minhas escolhas. Já proibiram propaganda e restringiram os locais em que é permitido fumar. Bebida é muito pior e ninguém faz nada."

BENGALA EMOCIONAL

Rebecca aderiu ao tabaco entre amigos, numa rodinha com bebida alcoólica, aos 16 anos. "Tive problemas de ansiedade. Com o tempo, comecei a fumar para acalmar e vi que funciona", diz.

Com Bia foi mais ou menos assim. O câncer apareceu pela primeira vez aos dez anos. O cigarro virou uma válvula de escape na adolescência.

"Eu sabia que fumar era um risco, mas resolvi assumir. Não me arrependo. A doença não foi consequência disso."

Para a médica Darlene Dias Pinto, coordenadora do programa de controle do tabaco em São Paulo, do Ministério da Saúde, a resistência é reflexo de imediatismo e comodidade emocional.

"As pessoas preferem aliviar um problema com nicotina do que cutucar a ferida mais a fundo. Nunca pensam que são viciadas. E só procuram parar quando sentem os danos à saúde."

As unidades básicas de saúde oferecem acolhimento a tabagistas, que são direcionados a grupos de apoio regionais.

Mas, segundo a médica, a procura de jovens é inexpressiva. Só 3% dos tabagistas consegue abandonar o vício espontaneamente. A maioria tenta até quatro vezes antes de procurar ajuda profissional.

Tânia Cavalcante, secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro (tratado mundial para restrição ao consumo de tabaco), afirma que a indústria é o alvo das campanhas, e não os fumantes.

"Estamos desconstruindo a demonização do fumante, mas esperamos que a proibição dos aromatizados reduza sensivelmente o acesso de adolescentes."

De onde vêm os aromatizados?

Cigarros aromatizados e com sabor surgiram nos anos 1970 como parte da estratégia da indústria tabagista para angariar o público jovem, que renegava o gosto amargo dos convencionais no primeiro contato. Estima-se que 50% dos jovens comece a fumar atraído por bolinhas de aroma mentolado nos filtros e outros quase "brinquedos" que escondem milhares de substâncias da pesada.

Quer parar de fumar?

O Ministério da Saúde disponibiliza aos fumantes um programa para ajudá-los a abandonar o vício. Veja as etapas:

Procure uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e peça encaminhamento ao centro de tratamento mais próximo O tratamento inclui consultas individuais e terapia de grupo

A duração varia para cada pessoa, mas colaboração é fundamental: evite faltar às sessões!

Nem todo mundo precisa de medicação. Essa indicação só pode ser feita pelo médico

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