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Eugenides recria casamento e semiótica

Sai no país 3º romance de americano, publicado 9 anos depois de "Middlesex" e 18 após "As Virgens Suicidas"

Triângulo amoroso inspirado em gênero vitoriano ironiza conflitos entre tradição e desconstrução

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Jeffrey Eugenides tarda, mas não falha. Qual um relógio preciso, a cada nove anos ele apresenta um novo grande romance.

Foram somente três na trajetória deste americano de 52 anos. O último, "A Trama do Casamento", saiu nos EUA no ano passado -nove anos depois de "Middlesex" e 18 depois de "As Virgens Suicidas", ambos festejados por público e crítica- e chega agora ao Brasil.

O título alude a uma forma de romance de língua inglesa dos séculos 18 e 19, consagrado por autores como Jane Austen e Henry James.

Só que a história de Eugenides se desenrola desde uma universidade americana entre 1982 e 1983, época em que os conflitos internos dos personagens são muito distintos dos de cem anos antes.

Madeleine, sua heroína, se pune por gostar de romances de casamento numa época em que a onda acadêmica nos EUA é a semiótica francesa. Apaixona-se por um colega, Leonard, mas quem a quer loucamente é outro, Mittchel.

Em entrevista à Folha, por telefone, Eugenides conta que a semiótica o ajudou na trama. Diz que o livro deslanchou quando ele escreveu o seguinte parágrafo (pág. 28 da edição brasileira):

"Os problemas amorosos de Madeleine tinham começado numa época em que a Teoria Francesa que ela estava lendo desconstruía a própria noção de amor."

"A ideia geral da história", explica o autor, "era sobre uma mulher que estava numa aula aprendendo que o amor não era algo verdadeiro, mas uma construção social, justo no momento em que ela estava se apaixonando por um cara da sala".

"Essa situação irônica delimita todo o romance. O livro não existiria sem esse contexto semiótico", afirma.

Antes mesmo de o livro sair nos EUA, pipocaram interpretações de que Leonard é um duplo do escritor David Foster Wallace, que se suicidou em 2008 -e que, como o personagem, usava bandana, mascava fumo, tinha problemas psiquiátricos, gostava de filosofia, era brilhante etc.

Apesar das evidências, Eugenides diz que é só coincidência, mas admite que Mittchel, como também se alardeou, é como um duplo dele, Eugenides (é de Detroit, tem sobrenome grego etc.).

De todo modo, se amola com o assunto. "É simplificador ler um romance como um diário da vida do escritor. Fazemos romances para inventar personagens e coisas que não aconteceram, tornando-as mais dramáticas e interessantes do que nossas vidas."

Assim como o incomoda ter de responder sobre sua lentidão para publicar.

"Me cansa ser continuamente questionado sobre isso e acho que há outras coisas que dizem mais sobre o trabalho de um escritor do que [saber] quão rápido ou devagar ele escreve."

FRANZEN

Ele lembra que outro expoente de sua geração literária, Jonathan Franzen, também demora muito para publicar, mas não falam tanto disso.

Eugenides e Franzen se conheceram no fim dos anos 90. Eugenides conta que se encontravam para jogar tênis no Central Park, "para almoçar e falar de nossas ansiedades sobre o futuro do romance".

Sobre sua notória "competição amigável" com Franzen, Eugenides afirma que é somente um "estímulo à ambição ver seu amigo escrever". "Faz com que eu dê o melhor que posso. Se ele estiver arrebentando num jogo de futebol, vou correr o máximo que puder para superá-lo."

Pode ser, mas indiretamente Franzen, que virá em julho ao Brasil para a Flip, atrapalhou a volta de Eugenides à festa de Paraty.

Resta aos leitores o consolo de que o intervalo para o próximo livro deverá ser menor. Eugenides informa que finaliza um livro de contos.

E que vai escrever parte o roteiro de "A Trama do Casamento", o filme, cujos direitos foram comprados pelo produtor Scott Rudin.

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