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ENTREVISTA HERTA MÜLLER Não me identifico com nenhum outro autor GANHADORA DO NOBEL NARRA EM LIVRO TRAUMAS E DESASTRES DO TOTALITARISMO QUE A FORÇOU A TROCAR A ROMÊNIA PELA ALEMANHA E, À FOLHA, ATACA GÜNTER GRASS, CHINA E IRÃ
MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO Tortura, perseguição, medo e traição entranham vida e obra de Herta Müller. Ganhadora do Nobel de Literatura em 2009, a escritora romena-alemã de 59 anos volta a acertar as contas com seu passado atormentado em "Sempre a Mesma Neve e Sempre o Mesmo Tio", que acaba de sair no Brasil. Lançado pelo Biblioteca Azul, novo selo da Globo (leia abaixo), o livro reúne discursos, artigos e ensaios da autora, que falou com exclusividade à Folha -por e-mail e em alemão, exigências dela. Livro e entrevista revelam que, no título da capa deste caderno, independe a ordem do substantivo: Herta Müller é igualmente uma brava mulher e uma mulher brava. Brava mulher por resistir à tirania e narrar tudo, reviver pela literatura. Em "Sempre a Mesma Neve...", volta a descrever como o regime do ditador romeno Nicolae Ceausescu (1918-1989) a acossou desde que ela se recusou a colaborar com a Securitate, polícia secreta do país. Declarada "inimiga do Estado", a escritora se mudaria em 1987 para a Alemanha. No ensaio "Cristina e Seu Simulacro", vasto painel do terrorismo do regime, Herta conta ter descoberto que até sua melhor amiga dos tempos de Romênia, que lhe deu ombro durante a perseguição, virara espiã do regime (e a espionou na Alemanha). Em "Mas Sempre Ocultou", relata o espanto ao descobrir que o poeta e amigo Oskar Pastior, colaborador em seu último romance, foi ele também um espião. Na entrevista, explica por que o perdoa. Herta Müller, cujo pai lutou do lado nazista na Segunda Guerra, é também uma mulher brava. Atacou o colega Nobel Günter Grass -por dizer, num poema, que Israel ameaça a paz mundial- e os regimes de China e Irã. Deu algumas respostas mal-humoradas. E deixou três perguntas sem resposta: o que acha da crítica de que o Nobel é eurocêntrico?; conhece o Brasil e a literatura do país?; em que trabalha no momento? -
Folha - Por que a sra. decidiu reunir estes textos num livro?
O livro mescla palestras e artigos. O que diferencia o texto escrito para ser falado de um outro sem esse fim?
No livro a sra. trata do suicídio, o definindo como "uma procura total pela felicidade". Concorda com Camus que o suicídio é "o único problema filosófico verdadeiro"? Como resistir à tentação de tirar a própria vida?
A obra da sra. é definida pelas marcas da opressão de sistemas ditatoriais. Há algum regime atual que tenha paralelos com o nazismo e o stalinismo? Há risco de aquelas experiencias se repetirem?
A sra. escreve que a Romênia, "o país do fracasso universal", passou da tirania de Ceausescu a uma democracia corrupta. O que falta para o país se tornar viável?
A sra. escreve que a literatura não pode fazer nada contra as ditaduras, apesar de dizer que, a posteriori, ela pode mostrar tudo o que aconteceu. A literatura ainda tem o poder de influenciar as pessoas?
Kafka, Celan, Canetti são autores que escrevem em alemão, mas não nasceram na Alemanha, e compartilham experiências de vida com a sra. Eles, assim como Kertész e Cioran, são mencionados quando se fala na obra da sra. Com qual desses autores se identifica?
Como a sra. viu a polêmica em torno do poema em que Günter Grass critica Israel? Concorda com ele que Israel é uma ameaça à paz mundial?
Como analisa o comentário do Nobel V.S. Naipaul de que textos escritos por mulheres são reconhecíveis ao primeiro parágrafo?
Leia a íntegra da entrevista |
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