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Livro usa as lutas de boxe como metáfora da história argentina

"Segundos Fora" retrata contrastes entre anos 20 e 70

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

O ano é 1973. Dois jornalistas da isolada cidade patagônica de Trelew recebem uma encomenda. Em poucas semanas, o diário para o qual trabalham completará 50 anos e eles devem escolher duas datas significativas para a Argentina daquele ano de 1923 e descrevê-las.

Um deles, editor de cultura, escolhe a noite em que a "Primeira Sinfonia" de Mahler foi executada no teatro Colón de Buenos Aires, pela Filarmônica de Viena, com Richard Strauss.

O outro, de esportes, prefere a luta entre o mito local Luis Angel Firpo contra o campeão mundial dos pesos-pesados, Jack Dempsey.

"Segundos Fora", o novo romance do argentino Martín Kohan, 44, é um diálogo entre duas eras. Os anos 1920, década na qual a Argentina vivia um apogeu econômico e uma profunda transformação social, e os anos 1970, quando as nuvens negras da repressão se avizinhavam.

"É um livro baseado nos contrastes que fazem a 'argentinidade'. A promessa do início do século, que não se cumpriu, e o pesadelo da ditadura", diz Kohan à Folha.

O centro do romance está nos 17 segundos em que Firpo consegue nocautear temporariamente Dempsey. Depois do lapso, o americano se recupera e vence a luta.

"Esses 17 segundos resumem a problemática argentina. Nesse espaço curto de tempo está o que poderíamos ter sido e não fomos. Além disso, há as teorias da conspiração, que dizem que o juiz roubou. Nada mais característico do nosso modo de ver o mundo", diz o escritor.

A luta havia sido transmitida pelo rádio e foi um acontecimento. Na Argentina daquela época, as pessoas se reuniam para ouvir essas narrações juntas, e a mídia dava ampla cobertura. "O boxe foi uma paixão nacional que se perdeu nos dias de hoje."

Sobre a apresentação da Filarmônica de Viena no teatro Colón, Kohan considera que ela resume o desejo dos homens daquele tempo de serem europeus. "Era uma Buenos Aires que se iludia com a música e a arquitetura de um outro lugar. Os anos 20 foram o último momento em que tivemos esse sonho."

O escritor passou pela Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) em 2008, e tem alguns de seus livros traduzidos no Brasil, como "Ciências Morais", que saiu pela Companhia das Letras.

Sobre política, ele diz que não votou em Cristina Kirchner, mas apoia ações como o questionamento da imprensa opositora e os avanços nas leis por igualdades civis.

SEGUNDOS FORA
AUTOR Martin Kohan
TRADUÇÃO Heloísa Jahn
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39,50 (256 págs.)

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