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Em SP, feira evangélica espera movimentar R$ 50 milhões

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DOUGLAS LISBOA
DE SÃO PAULO

"Não é só uma Bíblia. Ela muda de capa, tem diversas cores... Já pensou? Você pode combinar com sua roupa!"

Se o diabo gosta mesmo de vestir Prada, o público evangélico também arranjou seu jeito de entrar na moda.

O "papo de vendedor" no estande da editora Bom Pastor, um dos mais concorridos da primeira Flic (Feira Literária Internacional Cristã), é uma amostra da força do segmento, que movimenta R$ 550 milhões por ano no mercado de livros do Brasil.

A estimativa é da Asec (Associação de Editores Cristãos), que organiza o evento com 41 expositores, aberto ao público até amanhã (mais em www.flic2012.com.br). Há expectativa de movimentar R$ 50 milhões em quatro dias.

Encontram-se por lá "Marina - A Vida por uma Causa" e "Justin Bieber - Fama, Fé e Coração". A biografia cristianizada da ex-senadora acriana divide prateleira com pensamentos de bom-moço do cantor -pílulas que revelam "sua espiritualidade [...] a seus seguidores no Twitter".

Maior best-seller do mundo, a Bíblia ganha várias versões. Se você for surfista, mulher ou executivo, irá encontrar o modelo na medida. Há, ainda, uma edição comentada por Mara Maravilha.

"Isso virou um mercadinho da Pérsia", diz o aposentado João Carneiro Gripp, 64. Ele foi ao evento por curiosidade e indagou se métodos de marketing não ultrapassam o objetivo básico de divulgar a fé.

PEGOU PRA CRISTO

Para evangélicos, o culto à personalidade é vetado -não à toa, a religião não venera santos (curiosamente, a feira acontece no Centro de Eventos São Luís, dentro de uma tradicional instituição católica de ensino de São Paulo).

Espelhar-se num ídolo teen como Bieber não é conflito, diz à Folha Sérgio Henrique de Lima, presidente da Asec e da editora Vida.

"Quando um bom exemplo consegue edificar a vida... Tudo serve para o aprendizado."

Quem também tem muito a aprender é o mundo "secular" (evangélicos se referem assim àqueles que não seguem sua fé). O nicho evangélico é 30% da população, segundo projeção do IBGE e lê cerca de sete livros por ano, o dobro da média nacional.

"Não é um povo desinformado", diz Sérgio Henrique.

Nem econômico: eles estão dispostos a consumir literatura e procuram por ela nos mais diversos lugares -da grande livraria (muitas vezes na seção de autoajuda) ao velho porta a porta -a venda aliada ao catálogo de cosméticos da Avon é um sucesso.

Ainda não é o bastante, pontua o pastor Hernandes Dias Lopes, com 110 livros escritos desde 1992. "Não posso entender uma nação com 30% de evangélicos ter mercado secular um pouco fechado [aos evangélicos]. No mínimo, não é sensato do ponto de vista comercial."

Grandes editoras já têm selos voltados ao setor, como Ediouro (Thomas Nelson) e Novo Século (Ágape, sem relação com o livro homônimo do padre Marcelo Rossi).

Para Sinval Filho, da Asec, "megastore sem estante cristã não pode mais ser chamada de megastore".

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