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NY vê última peça de Tennessee Williams

"In Masks Outrageous and Austere" reflete desorientação e isolamento do celebrado dramaturgo no fim da vida

Encenada pela 1ª vez, história passou pelas mãos de ao menos seis colaboradores do escritor antes de ganhar os palcos

FRANCISCO QUINTEIRO PIRES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NY

À medida que a sua vida se tornou mais desesperada, o dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983) percebeu que teria de mudar de estilo, pois referências padronizadas não conseguiam mais comportar seus delírios.

"As minhas peças dos anos 1940 e 1950 tinham estruturas convencionais porque a minha mente era relativamente equilibrada naquela época", comentou, em 1975.

Apontado como o seu último trabalho longo para o teatro, "In Masks Outrageous and Austere" (em máscaras ultrajantes e austeras, em português) reflete a espiral de paranoia do autor crepuscular e ganha os palcos pela primeira vez na temporada agora em curso no Culture Project, em Manhattan.

A obra foi criada "num período de consumo intenso de drogas e álcool, em que um comportamento irracional veio à tona e a conexão com os amigos se quebrou", explica o diretor David Schweitzer. "A sua escrita ficou mais fragmentária, desarticulada."

Redigido entre 1978 e 1983, o texto passou por uma "filtragem" antes de chegar ao palco. Williams inicialmente convidou o roteirista Gavin Lambert para dar coerência a três rascunhos. Após a morte de Lambert, em 2005, o material passou pelas mãos de pelo menos seis colaboradores do autor de "Gata em Teto de Zinco Quente", entre eles Gore Vidal.

Para ser o mais fiel possível à encarnação original do enredo, Schweitzer contou com o auxílio do dramaturgo Joe E. Jeffreys e do Juxta, programa de computador que compara dados. "Williams mostra no seu rascunho o desejo de brincar com as origens do teatro e com os limites da narrativa", observa o diretor.

CONFLITOS

Em cartaz até o dia 25 em Nova York, "In Masks Outrageous and Austere" trata da relação conflituosa de Babe (Shirley Knight), a mulher mais rica do mundo, com Billy (Robert Beitzel), o seu jovem e infiel marido.

Billy mantém um caso com Jerry (Sam Underwood), o seu secretário. O trio fica enclausurado em uma casa de veraneio após ser sequestrado pelos Gideons, integrantes de uma célula de espionagem a serviço de um conglomerado.

O cenário é composto por espelhos e 60 painéis de LED. "Os elementos high-tech indicam que os sequestradores estão no controle", explica Schweitzer. "Eles reforçam medos e emoções dos personagens. Fazem com tudo se transforme num pesadelo a dramático e cômico."

O tom apocalíptico é o mesmo que Williams vinha cultivando desde "A Noite do Iguana" (1961), seu último sucesso comercial. Dali em diante, a crítica o desprezaria, gesto que só acirraria o seu isolamento.

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