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Eu, robô

Ralf Hütter, líder do Kraftwerk, fala de sua admiração por funk carioca e se diz fã de Niemeyer

RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

O Kraftwerk está para a música eletrônica como os Beatles para o rock.

A partir de 1974, quando a banda se dissociou do "krautrock", movimento que congregava grupos de rock experimental da Alemanha, com o disco "Autobanh", inaugurou um gênero que mais tarde seria o mais inovador da música pop.

O uso pioneiro de sequenciadores, computadores, sintetizadores e até calculadoras para produzir canções os mantêm até hoje no topo da vanguarda.

E Ralf Hütter, 65, seu líder e único remanescente da formação original (Florian Schneider deixou a banda em 2009), diz conservar o interesse pelo que faz como se estivesse no começo dos anos 1970. "Eu estava agora mesmo no Kling Klang (lendário estúdio do grupo) revendo umas programações de luz e som que usamos nos shows do MoMa, em Nova York", contou em entrevista a Folha, de Dusseldorf.

É um compacto da série recente de oito shows, quando a banda tocou sua discografia na íntegra, que o quarteto apresentará no festival Sónar, em São Paulo, na próxima sexta-feira (11).

"Você já viu algum show nosso?", perguntou ele. À resposta afirmativa, sentenciou: "esse será bem melhor". "Conseguimos formatar de maneira muito interessante música e cenografia, toda ela em 3D", empolga-se.

A comunhão entre som e imagem sempre foi talhada nos mínimos detalhes pelo Kraftwerk.

"Sofríamos muito com a dificuldade de levar aos palcos o que produzíamos em estúdio, nos anos 1970. Mas veja só, o futuro chegou e ele é como imaginávamos: uma grande autopista livre e que liga o mundo inteiro. Hoje, podemos levar uma estrutura imensa a qualquer lugar."

O futuro a que se refere Hütter foi prenunciado por sua obra, um misto de distopia e literatura de ficção científica, transformada em música e visualmente representados por avatares robóticos.

À medida em que essas canções se agregaram a outros gêneros, o legado do Kraftwerk deu origem a uma rede infinda de novos estilos, segundo ele, acompanhada com bastante atenção pela banda.

"O hip hop nova-iorquino, a cena techno de Detroit, o dubstep e o baile funk são desdobramentos do que criamos e isso me deixa muito orgulhoso", contou ele, que conheceu o pancadão carioca na sua última visita ao Rio, em 2009.

"Mas nada me impressionou mais do que tocar em um monumento (a Apoteose) de Oscar Niemeyer. Sempre o achei genial."

Ao saber que agora em São Paulo tocará em um obra do mesmo autor (o Anhembi), não se conteve: "é mesmo? Isso é incrível demais!"

Arquitetura à parte, Hütter tem se dedicado nos últimos anos a burilar um novo disco. "Pressa nunca foi o nosso forte", diz, rindo, ao ser perguntado sobre quando o álbum de inéditas, o primeiro há nove anos, será lançado.

Enquanto dá forma ao aguardado trabalho, Hütter segue praticando uma atividade que lhe é cara: o ciclismo. "Pedalo todos os dias."

O esporte foi tema de um disco da banda, "Tour de France Soundtracks", lançado em 2003, evolução de uma música homônima de duas décadas antes.

"Quando pedalamos, nos tornamos homem e máquina, um só corpo. Não há nada mais rítmico e harmônico. É pura música, sabe?"

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