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Crítica / Teatro

Rodrigo Lombardi é ponto fraco de boa releitura de "Don Juan"

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro como jogo de espelhos. "Don Juan", peça de William Pereira, resgata texto raro de Molière (1622-1673) e projeta nele, com acertos e erros, reflexos das ansiedades contemporâneas.

A quase tragicomédia "Don Juan, o Convidado de Pedra" foi escrita em 1665 e logo proibida, só sendo publicada, e encenada sem cortes, quase 20 anos depois. Como em "Tartufo", peça bem mais famosa do gênio francês e escrita um ano antes, o tema central é a hipocrisia.

A diferença é que as falsas virtudes aqui são denunciadas pelo próprio Don Juan, incorrigível libertino, que as recusa sistematicamente até chegar a abraçá-las, próximo do fim, por oportunismo.

O protagonista traça qualquer rabo de saia que vir pela frente e sustenta uma retórica que soa atualíssima.

A encenação de Pereira honra a qualidade do texto e trabalha a favor de sua universalidade. A bela e eficaz tradução de Jorge Coli não vulgariza as falas e mantém a integralidade da obra. Mas é pela sua cenografia que o diretor se destaca.

Composta de painéis móveis e translúcidos, ela permite várias situações de espelhamento e transparência conforme a incidência de luz. Com isso, cenas difíceis, como a da estátua de pedra que ganha vida, encontram soluções inspiradas.

O ponto fraco da direção vem de seu maior trunfo com o público: o galã de novelas Rodrigo Lombardi. O ator é levado a construir um Don Juan afetado, pleno de caras e bocas, mas esvaziado de espírito. Se a intenção era incitar a rejeição do anti-herói, resulta em redundância, pois seus ditos já repugnam pela sua amoralidade intrínseca.

Quem salva a pátria é Eduardo Estrela, que encarna o criado Sganarelo com propriedade e garante o registro cômico, expressando um humanismo mais familiar.

Clarissa Kiste como Dona Elvira, a evocação de todas as mulheres feridas pelo sedutor, também brilha ao alcançar a dimensão trágica implícita na peça.

"Don Juan" é uma realização importante, que tem problemas sérios, mas que é bem-sucedida ao revelar como Molière ironiza, precocemente, os arroubos da subjetividade moderna.

DON JUAN
QUANDO sex., 21h30, sáb., 21h, e dom., às 19h
ONDE teatro Raul Cortez (r. Doutor Plínio Barreto, 285;
tel. 0/xx/11/3254-1631)
QUANTO R$ 60 e R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

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