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Crítica / Biografia Pesquisa exaustiva promove viagem por sentimentos de Patricia Highsmith ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHA Não deve ter sido fácil para a pesquisadora e dramaturga Joan Schenkar escrever a biografia da autora Patricia Highsmith (1921-1995). Famosa por seus thrillers psicológicos e histórias policiais sombrias, Highsmith era ainda uma mentirosa compulsiva, que sempre fez questão de esconder seu passado e seus segredos. E ela tinha vários segredos: bissexual (numa época em que o homossexualismo era muito perseguido nos EUA), alcoólatra, antissocial, maldosa, fria. Odiava a família e seres humanos em geral (chegou a dizer que preferia a companhia de animais). Também era antissemita. Até os amigos a consideravam uma pessoa "difícil". Em suas histórias, Patricia Highsmith destilou sua concepção do mundo: um lugar sombrio, cheio de pessoas más e que carregavam segredos terríveis. Nada a fascinava mais do que retratar as perversões humanas. Highsmith estreou com o livro "Strangers on a Train", em 1950, adaptado por Alfred Hitchcock em "Pacto Sinistro", e que a tornou uma autora de sucesso. Seu personagem mais famoso, Tom Ripley, protagonista de cinco livros -e de diversos filmes, como "O Sol por Testemunha" (René Clement, 1960) e "O Amigo Americano" (Wim Wenders, 1977)-, é um assassino frio e trapaceiro, que esconde sua bestialidade sob um verniz de classe e sofisticação. O típico anti-herói de Highsmith. A escritora viveu nos Estados Unidos até a década de 1960, quando se exilou na Europa. Escreveu 30 livros, entre romances e coleções de histórias curtas, e morreu na Suíça, aos 74 anos. "A Talentosa Highsmith", de Joan Schenkar, é um trabalho de pesquisa exaustivo. O livro tem 816 páginas e um nível de detalhamento obsessivo. Em alguns momentos, chega a ser prolixo e provavelmente se beneficiaria de uma edição mais rigorosa. O que, no entanto, não tira suas qualidades: Schenkar teve a brilhante ideia de não escrever uma biografia de cronologia linear, optando por uma narrativa que vai e volta no tempo. Mas a autora fez questão de incluir um apêndice, com uma cronologia da vida de Highsmith. Schenkar teve acesso ao arquivo pessoal da escritora, guardado há anos na Suíça e que contém cerca de 8.000 cartas e documentos, incluindo alguns bilhetes pessoais endereçados a amantes (mulheres e homens). "Ela deixou um rastro de mágoas e corações partidos", escreveu Schenkar. Patricia Highsmith fez, em vida, o mesmo que seus personagens fizeram na ficção. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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