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Para Calatrava, museu é legado para o Rio

Proposta do arquiteto espanhol é de uma instituição "aberta" que deve revitalizar a zona portuária da cidade

Prevista para 2014, edificação custará R$ 215 milhões e terá "passeio arquitetônico" em seus arredores

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

"O museu não pode ser uma espécie de fortaleza, como que dizendo 'estamos aqui para guardar o tesouro da cultura'. Ao contrário, tem de ser um lugar aberto à cidade e convidativo ao público."

Foi esse raciocínio que guiou o espanhol Santiago Calatrava, 60, ao desenhar o prédio do Museu do Amanhã, que a Prefeitura do Rio pretende transformar em ponto focal da atualmente degradada zona portuária da cidade.

Um dos mais celebrados arquitetos contemporâneos, Calatrava esteve no Rio no início do mês para apresentar esta que será sua primeira obra no país, um projeto de R$ 215 milhões realizado pela prefeitura em parceria com a Fundação Roberto Marinho. A inauguração está prevista para maio de 2014.

"É importante entender o museu como parte de um contexto. Ele dialoga com a cidade. Queremos que sirva como fermento para revitalizar e reestruturar a paisagem urbana, para recuperar a praça Mauá, uma das mais belas do Rio", disse à Folha.

Sua filosofia de "museu aberto" está refletida não apenas nos traços do edifício -uma longa estrutura horizontal aberta nas duas pontas, cuja forma ele definiu como "um misto de inseto e planta"- mas também em seus arredores, onde Calatrava criou o que chamou de "passeio arquitetônico".

"Usamos a parte exterior do museu para que o visitante receba uma série de estímulos que o deixem perplexo: o teto que se abre e se fecha seguindo o périplo solar, os jardins remetendo à natureza do Rio, as piscinas que falam da utopia de poder filtrar a baía [de Guanabara]."

"Todas essas coisas fazem com que o museu tenha o que se chama 'architecture parlante', uma arquitetura que fala, que explica a história."

O espanhol também mostrou-se empolgado com o conceito curatorial da instituição, que pretende ser "um museu de exploração das possibilidades do amanhã".

"O projeto é tão audaz que parte do hoje para o amanhã, não para o passado. Preocupa-se com o legado."

CONVERSA COM O PAPEL

Durante sua passagem pelo Rio, Calatrava também deu uma concorrida palestra sobre seu método de trabalho e suas principais criações, como o auditório de Tenerife e o terminal de metrô e trem do Marco Zero, em Nova York.

Na apresentação, o espanhol fez sua "mise-en-scène": mostrou vídeos animados de projetos, citou filósofos gregos e desenhou uma série de aquarelas. "Desenho melhor do que falo. O desenho sempre foi a minha linguagem."

Disputadas pelo público ao fim da palestra, suas aquarelas foram doadas para inaugurar o acervo do Museu de Arte do Rio, que será construído próximo ao do Amanhã.

Ao falar à Folha, após a apresentação, o espanhol resumiu suas impressões sobre a cidade: "A natureza tem um valor paisagístico extraordinário no Rio. É claro que, como todas as cidades, tem partes mais controversas, por exemplo, as favelas."

Sobre elas, Calatrava mostrou uma visão otimista. "Gosto do que se chama de 'pacificação' das favelas, é de uma inteligência enorme abordar o problema dessa maneira. Esses lugares são vitais, têm uma capacidade criativa imensa."

Também chamou para sua classe parte da responsabilidade por encontrar soluções. "Costumo dizer que, se nós, arquitetos do século 21, não formos capazes de dar uma resposta a estes problemas das grandes cidades, teremos perdido o trem."

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