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Leituras e debates lembram Nelson plural

Evento promovido pelo Sesi prevê estreia de duas montagens e realização de exposição no ano do centenário do escritor

Mesas-redondas vão esmiuçar vertentes pouco consideradas de sua produção, como a obra para televisão

LUCAS NEVES
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

O maldito do horário nobre da TV, o observador palpiteiro das montagens de suas peças, o investidor que teve prejuízo com as parcas bilheterias das primeiras adaptações de seus textos para o cinema, o escavador da alma humana, o tricolor apaixonado, o romancista esnobado pela "intelligentsia".

É batata. No centenário de nascimento de Nelson Rodrigues (1912-1980), todas essas encarnações do jornalista, escritor e dramaturgo comparecem aos debates, leituras dramáticas (de 15 de suas 17 peças) e montagens que o Sesi paulista promove para marcar a efeméride (veja programação nesta página).

O ciclo, curado pelo jornalista Ruy Castro, autor da biografia "O Anjo Pornográfico" (1992), e com direção artística do encenador Marco Antônio Braz, segue até novembro.

A programação, que deve contemplar a capital e o interior do Estado, inclui uma exposição com edições raras de romances do escritor -como "Meu Destino É Pecar" (1944)- emprestadas pelo próprio Castro e áudios de trechos das histórias de "A Vida como Ela É" interpretadas pelo elenco da Rádio Nacional.

A mostra será aberta em agosto, mês de nascimento do homenageado.

Uma das vertentes rodriguianas menos conhecidas que Castro pretende iluminar é a sua produção televisiva. Na extinta TV Rio, em 1963, ele estreava a novela "A Morta sem Espelho", com Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo. No ano seguinte, viriam "Sonho de Amor" e "O Desconhecido".

"A censura implicava pra burro com o Nelson e com a TV Rio. Obrigava o canal a colocar as novelas no ar cada vez mais tarde", lembra o curador.

"Ele era o maldito do horário nobre, mesmo. Daí a importância do Daniel Filho, que, para espanto até meu, botou o Nelson no 'Fantástico' [no quadro de dramaturgia 'A Vida como Ela É', em 1996]", conta Castro.

"Tem tudo ali, toda a nudez possível. Daniel não maquiou nada. Isso foi possível porque ali talvez já se tivesse uma visão mais completa sobre ele, não apenas de um tarado ou coisa parecida", diz.

Outro estereótipo ligado ao escritor que o ciclo vai tentar desmontar é o do moralista incorrigível.

"Essa é uma palavra complicada para se aplicar a ele. O Nelson diz que a mulher precisa trair para não apodrecer. Não está, portanto, condenando o adultério. Ele quer que as pessoas ponham para fora pulsões, de modo a se purificarem. Por isso é que os psicanalistas o adoram."

O refinado faro do escritor para a autopromoção também estará em pauta.

"No fundo, era um ator", define Castro. "Assimilava os insultos dirigidos a ele. Tratava-se de um publicitário 'avant la lettre'. Na época de 'Anjo Negro' [1947], fez circular, no 'Diário da Noite', um anúncio com a seguinte provocação: 'Imoral ou obra de arte? Decida você vendo'."

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