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Coleção traça anseios de Mario Benedetti

Em "A Trégua", que chega às bancas em 27/5, uruguaio constrói paralelo entre miséria moral e ideal de felicidade

Volume é oitavo título de seleção que reúne 25 renomados autores que definiram a literatura ibero-americana

DE SÃO PAULO

Com suas rotinas labirínticas e unidimensionais, os burocratas oferecem material preciso quando a literatura tenta enxergar o que cada um de nós mantém guardado no fundo das gavetas.

Na obra de Mario Benedetti (1920-2009), Martín Santomé, o protagonista de "A Trégua", representa o apogeu do homem comum, órfão dos melhores adjetivos.

O romance, escrito em 1960 pelo escritor e poeta uruguaio, é o oitavo volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas no dia 27/5.

Ao contar metodicamente sua rotina através de um diário, Santomé transforma a vida em registros de um livro fiscal em que se marcam as operações sentimentais de um funcionário de contabilidade, viúvo na meia-idade e às vésperas de se aposentar.

Seu destino, no entanto, muda ao conhecer Laura Avellaneda, uma jovem discreta e tímida, contratada para ser sua subalterna.

Com ela, o homem reencontra o amor, a luminosa "trégua" para uma vida até então triste e opaca.

Longe de ser uma história otimista, o romance se desdobra em um questionamento da felicidade e um retrato ora bem-humorado, ora ferino, da complexidade dos relacionamentos humanos.

A persistência da narração em primeira pessoa conduz o leitor a uma experiência definida por misérias morais e anseios de liberdade abortados por infortúnios. No centro dela, o desejo de escapar do próprio destino para se reaproximar dos sonhos.

Porém -e na prosa despida de comiserações de Benedetti sempre há um "porém"-, quando os caminhos apontam para a redenção, a realidade se apresenta indisposta a conceder a tal trégua.

E nem mesmo o pessimismo intoxicante da prosa do escritor evita suas iluminações poéticas. Tanto pior, pois cada instante de elevação faz doer mais as quedas.

Romancista e poeta, Benedetti foi também editor de literatura do histórico semanário de esquerda "Marcha".

Tornando o Uruguai personagem constante de sua obra, o autor viveu em exílio parte dos anos da ditadura civil-militar que vigorou em seu país (1973-85). Exorcizaria essa ausência através da literatura, construindo simbolicamente sua própria trégua.

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