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Protesto na passarela

Temporada de verão começa hoje sob ameaça de crise; estilistas cobram incentivo do governo federal

VIVIAN WHITEMAN
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A temporada primavera-verão 2012 começa hoje no Brasil com a abertura do Fashion Rio.

Os desfiles acontecem em um cenário balançado pela adoção de um novo calendário da moda nacional e pelo medo de que uma crise, gerada sobretudo pela entrada e expansão de marcas estrangeiras no mercado brasileiro, prejudique o ainda frágil esquema de crescimento da indústria local -e, principalmente, do nicho do luxo.

Neste ano, ocorrerão não duas, como de costume, mas três edições do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week. O inverno, portanto, será exibido em outubro próximo e não somente em 2013.

A mudança visa incluir o Brasil na sequência de datas das maiores semanas de moda do mundo, o que significa um alinhamento com os esquemas mundiais de fornecedores e lançamentos.

Mas a mudança do calendário foi apenas um fator de transição que trouxe à tona uma série de problemas estruturais da moda, incluindo a fragilidade de certa porção do mercado nacional diante da concorrência norte-americana e europeia.

A Folha falou com estilistas, entidades e empresários do Fashion Rio e da SPFW, donos de diferentes negócios, e ouviu que, por trás do glamour das semanas de moda, está um setor que luta contra a falta de parque industrial e de políticas de incentivo e que enfrenta a falta de união entre os próprios designers.

Oskar Metsavaht, estilista e dono da Osklen:
" As marcas locais de luxo que trabalham com cópias de roupas europeias vão quebrar com a chegada dos originais.
A indústria têxtil tem interesses no mundo inteiro e faz lobby com o governo.
Os estilistas são outro setor que concorre com os grandes industriais donos de marca. Somos os mais frágeis da cadeia, mas quem defende a imagem da moda somos nós.
Há guerra de egos entre os designers, somos desunidos e bem amadores nesse ponto. Precisamos de mais liderança.
O governo não entende que por trás de uma Chanel ou de uma Prada existe uma cadeia enorme que gera empregos."

Clô Orozco, estilista e dona da Huis Clos:
"Tive de pular essa estação para vender minha coleção comercial. Sou a favor da mudança [de calendário], mas foi brusca, não houve respiro.
Precisamos de menores taxas de importação de tecido para competirmos com os grandes nomes da Europa e dos EUA. E de investimentos em maquinário. Poderíamos ser polos exportadores de malharia de luxo e seda, por exemplo."

Reinaldo Lourenço, estilista e dono da marca homônima:
"Cadê as máquinas? Marcas como Armani e Prada surgiram da industrialização incentivada pelo governo italiano. Temos de olhar mais a moda pelo lado da engenharia, da infraestrutura. Só a imagem não basta para levantar um mercado inteiro.
Nosso setor deveria se aproximar mais dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, e não só do da Cultura. O diálogo com a presidente Dilma estacionou nesse sentido."

Rony Meisler, dono da grife Reserva:
"Há conflitos de interesses empresariais que impedem o crescimento da indústria têxtil. Além disso, não há incentivos eficazes para a qualificação de mão de obra. Com a chegada dos estrangeiros, muita gente vai quebrar."

Waldemar Iódice, dono da Iódice e presidente da Abest (Associação Brasileira de Estilistas):
"O mercado local vem se profissionalizando, e a concorrência estrangeira é salutar. Mas ainda não tive oportunidade de reunir os estilistas para saber do impacto da chegada das marcas estrangeiras.
Moda é disciplina, não é só reclamar. Não dá pra montar o ateliê e ficar lá no auê...
A Abest acaba de criar uma feira de negócios, o Salão +B [que ocorre de 29 a 31 de maio, no Mube, em São Paulo], que terá um conteúdo agregado de arte e luxo. O governo do Estado está empolgadíssimo com o Ministério da Cultura nessa empreitada."

Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção):
"Não há conflitos de interesses na indústria têxtil, e meu telefone está ligado o dia inteiro para quem quiser conversar sobre esse assunto.
Também trabalhamos bastante com a Abest para defender os interesses comuns do setor têxtil, dos designers e das confecções.
Quanto às taxas de importação, não avalio que sejam altas como dizem. São apenas compatíveis com o cenário brasileiro, em que é estimado um déficit na balança comercial de US$ 6 bilhões."

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