Crítica Pop

Melancólico, disco é o melhor da carreira de Norah Jones

Quando surgiu em 2002, com voz sussurrada e repertório "jazzy" -e um pezinho no cafona, é verdade-, Norah Jones foi um arrasa-quarteirão. "Come Away with Me", seu disco de estreia, vendeu impressionantes 25 milhões de cópias.

O sucesso poderia tê-la acomodado como musa de piano-bar. Mas "Little Broken Hearts", seu quinto e mais recente disco, coroa uma trajetória de transformação permanente e amadurecimento inconteste.

Pinceladas do que se ouve agora já estavam em "Rome", disco de Brian "Danger Mouse" Burton e Daniele Luppi, lançado em 2011, em que Norah fez participação especial.

A saber, uma cantora de voz delicada sem ser piegas, uma letrista mais refinada e melancólica e uma musicista apurada -ela toca piano, guitarra, baixo e órgão.

Foi a Burton, cérebro do duo Gnarls Barkley, que Norah recorreu para produzir "Little". O fruto da junção desses dois talentos é um disco de rara beleza.

A letra de "Happy Pills", canção de sonoridade oitentista, que o diga: "Estou tentando pegar ritmo/Fazendo o que posso para nunca mais ver seu rosto novamente", canta Norah, mais sarcástica do que se lastimando, resumindo a tônica do álbum.

O disco tem músicas igualmente entregues e melodiosas, cheias de detalhes nos arranjos para serem ouvidos com atenção.

Uma percussão aqui, um piano ali, que, juntos, em músicas como "After the Fall", "Say Goodbye", "Take it Back" e "4 Broken Hearts" moldam sonoridade "vintage" a versos sinceros e apaixonados.

Como os de "Miriam", balada quase ao final deste novo disco, em que a cantora destila suas mágoas cantando "Você sabe que me fez mal/E que eu vou sorrir quando você disser adeus".

Trocando em miúdos, da Norah Jones excessivamente suave de 2002 sobrou quase nada, nem sequer a imagem. Sai o rosto delicado e ingênuo do debute, entram referências a filmes de "sexploitation" da capa recente.

Cantando e compondo, Norah Jones traz agora o coração na boca. E isso é bom.