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Pé no chão

'Na Estrada', de Walter Salles, estreia em Cannes com reações divergentes, da frieza ao entusiasmo; atuação de Kristen Stewart é destaque

Genin-Guignebourg/DLM/Honopix/Frame
Da esq. para a dir., atores Kirsten Dunst, Sam Riley e Kristen Stewart, diretor Walter Salles e ator Garret Hedlund em Cannes
Da esq. para a dir., atores Kirsten Dunst, Sam Riley e Kristen Stewart, diretor Walter Salles e ator Garret Hedlund em Cannes

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Walter Salles não esperava ser uma unanimidade quando apresentasse "Na Estrada", sua adaptação de "Pé na Estrada", clássico "beat" de Jack Kerouac, na mostra competitiva de Cannes.

"O tema, por definição, é polêmico", disse o diretor.

Mas o que se viu na Croisette, na primeira exibição do filme para jornalistas, não foi polêmica nem unanimidade.

Foi uma certa frieza.

O longa não foi vaiado, ao contrário do francês "Holy Motors", de Leos Carax, apresentado na noite anterior, mas tampouco foi aplaudido com entusiasmo.

A reação se perpetuou nas críticas após a sessão, principalmente entre os britânicos.

Peter Bradshaw, crítico do "Guardian", deu duas estrelas e escreveu que o longa é "bonito, mas sem foco". Robbie Collin, do "Telegraph", sugere que a obra de Kerouac continua inadaptável.

"Na Estrada" é tecnicamente bem realizado, de fotografia exuberante, e arranca interpretações memoráveis de Sam Riley, Kristen Stewart e Viggo Mortensen.

Mas o texto encontra alguma resistência cultural, assim como o livro em 1957.

A crítica francesa Barbara Théate, do "Journal du Dimanche", classificou a adaptação como "eletrizante". O "Le Figaro" estampa que Salles "conseguiu o impossível": "reinventar o road movie nos EUA dos anos 1950".

O americano Kenneth Turan, do "Los Angeles Times", disse que o longa chega às telas "mantendo as virtudes e o espírito do livro intactos". França e EUA em concordância já parece um feito.

Assim como é o "fim" da trajetória de "Na Estrada".

Francis Ford Coppola batalhava há 30 anos para levar a história dos amigos Sal Paradise e Dean Moriarty -na verdade, Jack Kerouac e Neal Cassady- para o cinema.

"Vários diretores tentaram, mas ninguém conseguiu até Walter levantar a mão e dizer que gostaria de fazer", disse seu filho, Roman Coppola, que também serviu de consultor para a equipe. "Ele nos deu conselhos preciosos de quem conhecia muito bem a obra", afirmou Salles.

"Na Estrada" é centrado em Sam Riley. Seu Sal Paradiso chega a ser tão marcante quanto seu Ian Curtis em "Control".

O trabalho deve muito à pré-produção: Kristen Stewart, 22, que faz a amante de Moriarty, ouviu fitas reais de Marylou, enquanto Viggo Mortensen chegou às filmagens com um aparato. "Trouxe até livros infantis de 1949 para a personagem de Amy Adams ler para os filhos. Os atores são coautores desse filme", disse Salles.

Kristen Stewart, a grande surpresa do longa, faz o melhor papel de sua carreira.

Ela não pensou em seu status de ídolo teen de "Crepúsculo" e tirou a roupa e interpretou cenas tórridas de sexo no longa.

"Foi bom ter ficado maior de idade antes de filmar. Gosto de ser pressionada e de ter experiências genuínas na tela. Fui fundo [nas cenas de sexo]. Desde que sejam honestas, não há do que me envergonhar."

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