Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Filhos de cineastas premiados apresentam filmes em Cannes

John Boorman inspira documentário da filha, e Brandon Cronenberg cria estética próxima à do pai

"Há uma sensibilidade parecida e dividimos os genes, mas não somos um só", diz o estreante sobre David Cronenberg

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Em uma das cenas mais perturbadoras de "Antiviral", um sujeito começa a ver tubos saindo de seus braços, e sua boca se transforma num duto purificador de sangue.

Sim, parece um filme de Cronenberg. E de fato é. Mas não do responsável por clássicos como "Crash" (1996) e "A Mosca" (1986). "Antiviral" marca a estreia de Brandon Cronenberg, 32, filho de David, 69, no cinema e foi um dos longas mais comentados da principal mostra paralela do Festival de Cannes, a Um Certo Olhar. A premiação desta aconteceria ontem.

Curiosamente, Cronenberg pai também está no balneário francês. Seu "Cosmópolis" era um dos mais esperados da seção competitiva principal, cujos vencedores serão conhecidos hoje. A participação de David na empreitada de Brandon foi tímida. "Ele não me deu conselhos porque estava ocupado com as filmagens de 'Um Método Perigoso' [2011]", diz o filho.

Mas é impossível negar a influência paterna em "Antiviral", filme com um mote interessante: o culto às celebridades chegou a tal ponto que as pessoas compram vírus de doenças contraídas por famosos e até comem carnes derivadas de células deles.

"Tive essa ideia quando fiquei doente em 2004 e pensei que havia algo no meu corpo que era de outra pessoa", explica Brandon. "Acho que é uma metáfora interessante. Veja só: Sarah Michelle Gellar [de 'Buffy'] disse num 'talk show' que estava gripada e que passaria a doença para todos. Alguém da plateia gritou de alegria."

O Cronenberg menos famoso não se incomoda com as comparações, mas prefere não levar isso para o set. "Quando fui fazer cinema, decidi ignorar a carreira do meu pai", diz. "Somos dois 'geeks'. Há uma sensibilidade parecida e dividimos os genes, mas não somos um só."

John Boorman, 79, e sua filha Katrine, 54, também não são a mesma pessoa. Pelo contrário, eram distantes até a atriz resolver filmar um documentário sobre o pai, diretor de "Amargo Pesadelo" (1972). "Foi melhor do que terapia", conta a diretora de "Me and Me Dad", apresentado na ala Cannes Classics.

"Vou me esconder no banheiro", brincou John, antes da exibição. "Não é uma sensação boa se ver do outro lado da tela dessa forma."

Boorman é simpático, mas amargo. Não filma há seis anos porque tem um projeto pequeno, mas que precisa de US$ 20 milhões (R$ 41,6 mi): "O cinema arruinou minha vida. Me sentia como em uma prisão. Ser cineasta é dolorido. O problema é que eu gosto da dor".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.