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Livro de fôlego narra escalada de Hitler

"No Jardim das Feras", romance de não ficção do americano Erik Larson, é fruto de árdua pesquisa documental

Autor diz que YouTube foi fundamental para ajudá-lo a reconstruir o cenário e o clima da Berlim dos anos 1930

GUILHERME BRENDLER
DE SÃO PAULO

Mesmo sem publicar um único texto na imprensa há dez anos, o jornalista americano Erik Larson, 58, não perdeu o faro nem a excelência de bom repórter. Não que ele tenha uma arma secreta antioxidante. Nada disso. Há 20 anos, Larson publica livros de não ficção sem a ajuda de pesquisadores auxiliares.

"No Jardim das Feras", sua sexta obra, a terceira publicada no Brasil, é um exemplo de qualidade investigativa, talento burilado quando escrevia para revistas como "New Yorker" e "Time".

Larson retrata os primeiros anos do nazismo no poder por meio da experiência de duas personagens reais: o embaixador dos EUA na Alemanha, William E. Dodd, que assumiu o posto no mesmo ano que Hitler se fez chanceler (1933), e a sua filha, Martha Dodd.

Por telefone, o autor disse que "não sabia o tema" de seu próximo livro. "Eu publiquei o último [em 2006] e havia um enorme vazio de ideias para o meu projeto seguinte."

Dois anos depois, o jornalista encarou uma edição de "Ascensão e Queda do Terceiro Reich", de William L. Shirer, em uma livraria perto de sua casa, em Seattle (EUA).

"Nada encorajador. Mais de mil páginas, letra miúda, nenhuma foto. Mas decidi levar." Com a leitura, Larson soube mais sobre os primórdios do nazismo, conheceu a história dos Dodd e achou o tema para seu livro seguinte.

Mesmo que de forma inconsciente, "Dodd e Martha sabiam da importância daquele momento e produziram muitos escritos pessoais. Quando encontrei esses textos na Biblioteca do Congresso [americano], e depois os despachos do embaixador no Arquivo Nacional, soube que ali tinha história para contar".

Além dos arquivos dos dois protagonistas, o autor pesquisou outras 15 fontes primárias, como manuscritos, interceptações da CIA, correspondências e despachos produzidos por pessoas que interagiram com os Dodd.

Os casos de espionagem, violência policial deliberada e fanatismo levaram o autor a acreditar que "uma história como essa não pode ser escrita como ficção. É tão absurda que ninguém acreditaria".

Outro fato pouco verossímil para ele é o envolvimento amoroso da filha do embaixador americano com nazistas e funcionários de outras embaixadas, como a soviética.

YOUTUBE

Além do livro de William L. Shirer, que viveu em Berlim nos anos 30, Larson adquiriu livros, fotografias e filmes que o ajudaram a recriar o ambiente e o espírito da cidade. De forma despretensiosa, descobriu uma ferramenta poderosa de pesquisa.

"Sempre achei que o YouTube tivesse só videoclipes e filmes recentes. Mas experimentei digitar o título de um filme mudo de 1927 sobre Berlim e o encontrei."

O autor entendeu melhor a "patologia" nazista vendo as obras de propaganda, que também estão disponíveis no site, e a imensidade de material começou a atormentá-lo. Ele conta que "como jornalista, você se acostuma com essas histórias tenebrosas".

Mesmo imune, o "trabalho de 40 horas semanais durante quatro anos" fez Larson ter uma "pequena" depressão pouco antes de terminar a obra. "Um dos meus guias era uma biografia de Hitler escrita por Ian Kershaw, uma edição com a foto do ditador na capa, que ficava em cima da mesa. Com o tempo, passei a colocar o livro com a contracapa para cima para não ter de ver mais aquela cara."

Assim que "No Jardim das Feras" foi publicado, garante Larson, a pequena depressão foi embora.

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