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Mostra no Rio exibe impacto da ditadura sobre fotografia do país

Exposição do acervo do Itaú teve estreia na Maison Européenne de la Photographie, em Paris

Conjunto que inclui, entre outros, Geraldo de Barros e German Lorca virá a São Paulo em abril do ano que vem

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Na sala em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea há mais de um século, no Paço Imperial, centro do Rio, estão dois dos trabalhos fotográficos mais contundentes da era do regime militar no país.

Ocupando só um terço das paredes, estão a obra em que Boris Kossoy retratou um maestro regendo túmulos num cemitério e a série de Carlos Zilio que mostra um jovem de terno num escritório e depois caminhando pelas ruas com uma mala cheia de pregos.

Essa sala quase vazia na megamostra da coleção de imagens do banco Itaú serve de metáfora visual para o hiato criativo que marcou a fotografia do país sob o regime.

"Aqui é o vácuo da ditadura. Na hora em que começam a desaparecer as pessoas, Kossoy põe esse maestro para reger os mortos", descreve o curador da mostra, Eder Chiodetto. "Quis sobrepor aqui duas máculas do nosso país, escravidão e ditadura."

Kossoy e Zilio também despontam nesse recorte como heróis da retomada conceitual na fotografia do país, que perdera o fôlego de nomes como Geraldo de Barros, German Lorca e Thomaz Farkas, fundamentais para o modernismo no país, nos anos 1940.

HISTÓRIA EMBARALHADA

Estratégias formais nas imagens desses artistas, todos na mostra, informam, mais tarde, a plasticidade da obra de contemporâneos, como Miguel Rio Branco, Rosângela Rennó e Claudia Andujar, também na exposição.

"Embaralho o contemporâneo com os modernistas para ver o que ficou de herança", diz Chiodetto. "É desmontar essa história cronológica e retilínea da arte."

No caso, mestres como Barros e Lorca encontram eco em trabalhos da novíssima geração, como o de Rafael Assef, que reproduz uma trama geométrica da obra de Lorca com cortes retilíneos na pele.

Todos eles parecem seguir a lógica do alto contraste e a eliminação de tons intermediários para anular a perspectiva clássica e dar à fotografia um caráter bidimensional.

Claudio Edinger exalta a superfície da imagem fotografando sobre película côncava ou convexa, o que destrói noções de foco e escala.

Mesmo entre os contemporâneos, há espaço para a influência de artistas consagrados, como Miguel Rio Branco, sobre a obra de jovens, como Breno Rotatori, que retoma a escala cromática soturna e potente de Rio Branco.

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da produção da mostra.

COLEÇÃO ITAÚ DE FOTOGRAFIA BRASILEIRA
QUANDO de ter. a dom., das 12h às 18h; até 5/8
ONDE Paço Imperial (pça. 15 de Novembro, 48, Rio, tel. 0/xx/21/2215-1195)
QUANTO grátis

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